Variedades

Espetáculo Palavra de Rainha estreia neste sábado

Há cerca de três anos, Maria Luísa Tisi, mais conhecida como Lu Grimaldi, resolveu dar um tempo para si. Mas o afastamento ocorreu na vida pessoal: enquanto trabalhava gravando novelas na Rede Record, resolveu se recolher, ficar mais quieta. “Meus amigos diziam que eu não estava bem. E eu estava bem. Na verdade, eu estava ótima”, diz. Neste ínterim, a atriz, que completou 60 anos em junho, refletiu sobre o envelhecimento, a chegada à terceira idade. Era a semente do espetáculo Palavra de Rainha, que estreia neste sábado, 13, para o público, no Teatro Viradalata.

Por motivos pessoais e profissionais, Lu viajou a Portugal em 2012. Antes de embarcar, fez pesquisas sobre a antiga metrópole e deu de cara com Dona Maria I. “Encontrei a Maria Louca. Eu sou Maria, Maria é qualquer mulher. E eu estava pensando muito nesta questão da loucura”, lembra, afirmando que o tema casava com a ideia que tinha, já há alguns anos, de fazer um monólogo quando ganhasse mais idade.

Nas duas semanas em que ficou em Lisboa, aproveitou para garimpar materiais sobre D. Maria. Encontrou quatro biografias e entregou-as a Sérgio Roveri – para a sorte do dramaturgo que, encarregado de fazer o texto, buscou material complementar em sebos e livrarias físicos e virtuais, e nada encontrou. “A única referência que temos da Dona Maria I é que ela era louca”, lembra Roveri. “Surgia uma descoberta a cada página. Pensei que, se naquela época Portugal ainda fosse uma potência, ela seria uma figura mítica do porte da rainha Vitória”, pondera, referindo-se à autoridade do Reino Unido.

Entre os possíveis recortes da rainha, o dramaturgo privilegiou o lado humano da portuguesa, respeitando a ideia original de Lu, que era abordar a relação da mulher com a loucura e o envelhecimento. O monólogo coloca a rainha – que, em uma época quando pouco se sabia da loucura, foi diagnosticada como portadora de “doença melancólica” – em um delírio. Desnorteada, ela fala sobre situações da corte, a morte dos filhos, a clausura que a jogou no ostracismo, a resistência à fuga para o Brasil. O tom do texto deixa aberturas para a interpretação do público: não se sabe se os ocasionais interlocutores de D. Maria são reais e não é possível situá-la em um local físico, embora haja um arco cronológico que sugira um início em Portugal, os 50 dias no mar e a chegada ao Rio.

O devaneio ganha força pelo figurino, que também é o cenário. Idealizado pela diretora Mika Lins e pelo figurinista e cenógrafo Cassio Brasil, o vestido preto usado por Lu tem cerca de 200 m² de tecido. Ele se funde ao pano do cenário que, de mesmo tom, cobre o palco e as paredes laterais. É em meio aos tecidos que a rainha se perde. “Quando definimos o cenário, eu pensei que a D. Maria tinha de estar em alto-mar”, diz Mika. “E o vestido é o mar. Ele a aprisiona e é escuro, traz o luto.”

Apesar de a personagem ser portuguesa, não houve preocupação por parte da atriz ou da diretora em imprimir um sotaque lusitano ou fazer com que Lu se parecesse com a rainha. A ideia não é fazer um resgate histórico ou um espetáculo didático, mas, sim, abordar o modo com que esta mulher lidava com o poder, a religião, as perdas e a própria loucura. O toque português fica por conta da trilha, que mescla fado aos sons dos movimentos do mar.

Texto publicado

Com três peças atualmente em cartaz, Roveri lança um livro com os textos. Editado pela Giostri, Medeia, Maria e Marilyn tem as dramaturgias dos espetáculos Medeia: 1 Verbo, em que a personagem do clássico grego vai para a detenção, e Tempos de Marilyn, que mostra o encontro de Monroe com sua versão mais jovem, além de Palavra de Rainha. O lançamento ocorre no sábado, 27 de setembro, entre 15 e 18 horas no Espaço dos Parlapatões, na Praça Roosevelt.

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