Cansado da limitação imposta pela pandemia, o ator e produtor Claudio Botelho decidiu, certo dia, iniciar o cuidadoso retorno ao palco com um projeto simples, mas carregado de simbolismo: o musical Brasileiro, Profissão Esperança, escrito por Paulo Pontes e cuja estreia aconteceu há exatos 50 anos, em 1971.
"Chamei a atriz e amiga Claudia Netto e, juntos com três músicos, montamos um espetáculo que, mesmo depois de tanto tempo, mantém um frescor graças à sua linguagem, poderosa e popular", comenta Botelho, que estreia neste sábado, 7, no Teatro Clara Nunes, no Rio.
Na peça, Pontes conta a história de dois grandes nomes da cultura popular, a cantora Dolores Duran (1930-1959) e o cronista Antônio Maria (1921-1964), por meio de suas canções e crônicas. "Em ambas, a linguagem é uma verdadeira pérola", comenta Botelho, que manteve clássicos do repertório, como Ternura Antiga, Manhã de Carnaval, Valsa de uma Cidade, Castigo, Lama, Fim de Caso e a belíssima A Noite do Meu Bem.
"O espetáculo mostra o Brasil mais humano e afetivo dos anos 1950, quando Maria escreveu crônicas pungentes", comenta o ator e diretor, que fez uma troca do roteiro original: ele declama agora o poema A Morte do Leiteiro, de Carlos Drummond de Andrade, ao invés de Cântico Negro, poema-manifesto de José Régio.
"O Cântico ficou eternizado na interpretação de Paulo Gracindo, que participou de uma das montagens da peça. Eu não poderia enfrentar tão poderosa memória", explica. De fato, a peça estreou com Maria Bethânia e Ítalo Rossi, mas a montagem de 1973, que uniu Gracindo e a cantora Clara Nunes, se tornou um marco, lotando o antigo Canecão, no Rio, por oito meses – houve ainda a versão de Bibi Ferreira, que foi casada com Paulo Pontes, e Gracindo Jr., em 1998.
"A primeira montagem teve uma passagem discreta, mas a segunda fez sucesso, com Gracindo apenas falando e Clara apenas cantando. Já em sua versão, Bibi acrescentou canções de outros compositores. A nossa mantém a linha traçada por Paulo Pontes", diz Botelho, que também dispensou a leitura de uma carta de Vinicius de Morais sobre a influência de Antônio Maria sobre a nova geração de músicos e que encerrava a peça.
A versão agora dirigida por Botelho e Charles Möeller ganha uma inusitada importância diante da situação atual. "O espetáculo traz um Brasil que parecia perdido nos anos 1970, mas que se encaixa, infelizmente, como uma luva no de hoje. Um país incerto e inseguro, mas cheio de esperança", diz Botelho.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>