Quando chegou à Presidência da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando encostado na parede por tomar medidas antipopulares, que iam contra aquilo que sempre pregou em sua vida política, chegou a dizer: “Esqueçam tudo o que eu escrevi”. Na ocasião, quis dizer que – no poder – o governante, muitas vezes, precisa deixar de lado algumas convicções pessoais em nome da governabilidade. A frase entrou para a história e, por certo, acompanhará para sempre a trajetória de FHC. Mais de dez anos depois, o “esqueçam tudo…” volta à tona, de forma diferenciada, mas pela boca de ninguém menos que o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No momento em que as centrais sindicais, queo apoiaram durante os oito anos de seu governo e entraram de cabeça na campanha de Dilma Roussef (PT), defendem um salário mínimo na faixa de R$ 580,00, Lula classificou como “oportunismo” o pedido dos sindicalistas para reajustar o valor além do valor oferecido pelo governo. Imediatamente, como não poderia deixar de ser, as lideranças sindicais devolveram a acusação de “oportunismo” ao próprio Lula, lembrando que ele e Dilma prometeram juntos, em plena campanha eleitoral, o aumento real do salário mínimo para 2011. Fora isso, vale destacar que a declaração vai contra a própria história de vida do ex-presidente, que ganhou espaço na vida pública exatamente como sindicalista. Não à toa, em encontro de seis centrais sindicais, surgiu um documento conjunto que indica o rompimento da presidente Dilma com os trabalhadores. O primeiro grande protesto, do setor metalúrgico, acontece A grande diferença entre o “esqueçam tudo…” de FHC e das acusações de “oportunismo” desferidas por Lula reside nos momentos em que as duas declarações foram feitas e a que elas se referiam. Fernando Henrique entendia ser impossível colocar em prática toda a teoria que pregou ao longo de sua vida, devido ao próprio jogo político e a conjuntura vivida pelo país naquele momento. Já Lula joga contra exatamente o movimento que o alavancou à condição de líder de um país. Quando o candidato derrotado José Serra, durante a campanha do ano passado, propôs o mínimo de R$ 600 e os 10% para os aposentados, Lula e Dilma estiveram reunidos com os presidentes das centrais e garantiram para as bases sindicais que thaveria aumento real neste ano. Mas as eleições passaram. As promessas ficaram para trás. E os sindicalistas demonstram um grande descontentamento com a nova presidente que só está iniciando seu mandato. Se não houver uma mudança de rumo nas relações com os sindicatos, esses quatro anos podem não ser tão tranquilos para a presidente como todos já desenhavam.