A esquina da Avenida Angélica com a Rua Maceió, em Higienópolis, na região central, é o retrato do trânsito caótico de São Paulo. É lá onde fica o semáforo campeão de panes – foram registradas 91 entre janeiro e o dia 10 de julho, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) -, que causa transtornos e expõe pedestres, ciclistas e motoristas a riscos.
A atendente Maria Aparecida Balbino, de 42 anos, conta que, na manhã de ontem, quase presenciou um acidente. “Uma senhora foi atravessar com duas sacolas, mas um carro veio descendo. Ela até sinalizou com as mãos, mas não adiantou nada, o motorista teve de jogar o veículo para a calçada”, afirma. “Isso aqui é um sufoco.”
Aos carros que sobem e descem a Angélica, se somam veículos que desembocam pela Maceió e podem entrar nos dois sentidos. Sem sinalização, tudo vira uma confusão. Não raro, pedestres ficam retidos na calçada até que o fluxo diminua. Mas muitos também se aventuram a atravessar. Por isso, é comum ver pessoas gesticulando para alertar os motoristas ou até mesmo forçando passagem por meio do trânsito.
“É muito perigoso, toda hora você ouve uma brecada forte”, diz Tadeu Machado, de 70 anos, que tem uma banca de revista na esquina. Com um problema no quadril, ele usa bengala para caminhar. “Quando o pessoal vê que eu estou tentando atravessar, costuma respeitar. Mas já levei muito susto.”
Frequentadores da região dizem que os semáforos pioram em dia de chuva, apesar de haver manutenção. “Tem dia que a CET vem arrumar três vezes e não adianta”, afirma Machado. “É uma calamidade. E estamos falando de uma área nobre.” O office-boy Lucas Nogueira, de 20 anos, que trabalha de bicicleta na Angélica, já perdeu as contas de quantas vezes foi “xingado no farol”. “Não espero muito, não. Se a gente não meter a cara, fica muito tempo parado. “
Perdizes
Na Avenida Pacaembu com a Rua Tupi, em Perdizes, na zona oeste, o semáforo já parou de funcionar 28 vezes. “Quando chove, ele apaga e, aí, vira bagunça. Trava o trânsito inteiro, é um caos”, diz o manobrista Felipe Rodrigues, de 29 anos, que trabalha na frente. “Já vi vários acidentes, normalmente envolvendo dois carros.”
O mecânico Hugo Cardoso, de 51 anos, afirma que, na Avenida Brigadeiro Faria Lima com a Rua Padre Garcia Velho, também na zona oeste, até o vento é motivo de transtorno. “Dava uma rajada, o sinal virava. A gente chegou a amarrar uma corda para tentar puxar de volta”, conta. Ao todo, foram 27 panes notificadas ali.
Na Avenida Inajar de Souza com a Rua Bartholomeu do Canto, no Limão, zona norte, houve 26. O mecânico de bicicleta José Valderi, de 30 anos, relata que viu dois acidentes mais graves no local só neste ano. No primeiro, um caminhão entrou de vez e acabou “arrancando” a frente de um automóvel. O outro foi no mês passado. “O sinal estava quebrado, a CET veio, bloqueou dois acessos com cones e depois saiu”, diz. “Um motociclista furou o bloqueio e acabou atropelado por um ônibus. Ele não resistiu”, conta. “No fim das contas, a gente está falando de vidas que são perdidas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.