A necessidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) combater a inflação com um ciclo bem forte de altas de juros deverá levar os EUA a uma leve recessão a partir do quarto trimestre, que deve se estender até 2023, comenta em entrevista exclusiva ao <b>Estadão/Broadcast</b> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) Vincent Reinhart, economista-chefe da Dreyfus and Mellon. O economista, que trabalhou por 24 anos no Fed, do qual foi diretor, criticou o BC americano por ter elevado as taxas de juros em 0,75 ponto porcentual na semana passada. A seguir, os principais trechos da entrevista.
<b>Qual é sua avaliação sobre a decisão do Fed de subir os juros em 0,75 ponto porcentual?</b>
Foi provavelmente um erro dentro do comitê do Federal Reserve. O Fed está bem atrás da curva, começou a subir os juros muito tarde e deveria ter sido mais agressivo no início deste processo. Mas, como a inflação está muito alta, o que já elevou as expectativas para os índices de preços, precisou agir com força e elevou a taxa mais do que o Banco Central do Brasil no mesmo dia. Os membros do comitê do Fed trabalham duro para estabelecer um ritmo gradual na retirada da política acomodatícia e se comprometeram a subir os juros em 0,50 ponto porcentual por duas reuniões. Contudo, dois dias antes do término do encontro de junho, foi expressado (off the record, ou seja, sem revelar a fonte) a um único veículo de imprensa: Deixe para lá, vamos aumentar 0,75 ponto porcentual . Tudo isto aos poucos corrói a credibilidade do presidente do Federal Reserve para futuros compromissos.
<b>Na sua avaliação, houve uma decisão de última hora de Jerome Powell. Ele teria entrado em pânico por estar muito atrás na condução da política monetária?</b>
Sim. Antes de partir para o 0,75 ponto porcentual, poderia ter adotado outra postura, ao subir os juros em 0,50 ponto porcentual com o apoio de todos no comitê e atingir o mesmo resultado perante os mercados. Poderia ter divulgado um comunicado no qual destacaria que uma alta maior seria necessária na reunião seguinte.
<b>Com essa política monetária do Fed, tornou-se inevitável os EUA entrarem em recessão neste ano?</b>
Sim. A recessão vai ocorrer porque a inflação é um grande problema que torna extremamente complexo o trabalho da política monetária.
<b>Quão forte será a recessão no curto prazo?</b>
Acredito que será leve, deverá começar no último trimestre deste ano e continuar no primeiro de 2023. Não será grave, inclusive porque o setor privado não enfrenta tantos desequilíbrios e poderá navegar bem durante tal período. O PIB dos EUA deverá crescer ao redor de 1,75% em 2022 e ficará estável no próximo ano, impactado pela recessão.
<b>O senhor acredita na projeção do Fed de que o desemprego subirá dos atuais 3,6% para 4,1% em 2024?</b>
A taxa de desemprego deverá subir, e não seria uma surpresa se atingir o patamar de 6%.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>