Em meio à crise do setor de óleo e gás no País, o Estaleiro Enseada decidiu por conceder férias coletivas a metade de seu efetivo em Inhaúma, no Rio de Janeiro. Ao todo, duas mil pessoas estão licenciadas das funções. O estaleiro tinha contratos para conversão de quatro plataformas da Petrobras para o pré-sal e é controlado pelo consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e UTC – todas citados nos escândalos de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
De acordo com comunicado encaminhado aos funcionários, o estaleiro indicou que a decisão foi tomada devido a “impactos negativos decorrentes de fatores externos ao contrato, tornaram inviável sua execução nas condições originalmente contratadas”.
As férias coletivas foram anunciadas aos trabalhadores no último dia 8, e confirmadas nesta quinta-feira, 11, pela direção da empresa. Segundo o comunicado, metade do efetivo do estaleiro segue “atuando nas principais frentes de trabalho”. A Enseada Indústria Naval negou que as obras de conversão do navio-plataforma P-74 da Petrobras tenham sido paralisadas. Entretanto, em comunicado aos trabalhadores, indica que a continuidade das obras era “inviável”.
“Em nosso contrato de conversão de FPSOs (navio-plataforma), as inúmeras alterações de escopo, bem como outros impactos negativos decorrentes de fatores externos ao contrato, tornaram inviável sua execução nas condições originalmente contratadas”, diz a nota. Os contratos da Petrobras com o estaleiro previam a conversão de quatro navios em unidades de produção FPSOs por cerca de US$ 2 bilhões.
Todas as unidades são destinadas a operar no campo de Búzios, na Bacia de Santos. A P-74 estava prevista para ser entregue em 2016, e era a única que ainda estava sendo produzida no País, em fase final de conversão. As demais unidades foram encaminhadas para serem finalizadas na China, em função de atrasos na execução das obras.
A decisão de encaminhar as obras para estaleiros estrangeiros ocorreu ainda em 2013, para evitar que os atrasos comprometessem a curva de produção da companhia. A previsão é que elas estejam em operação em até 2017, e serão responsáveis por produção de 5 bilhões de barris de óleo contratados na Cessão Onerosa.
A situação do estaleiro já era crítica desde o início do ano, quando começaram as primeiras demissões na unidade localizada em Maragojipe, no Recôncavo Baiano. No auge das obras, trabalhavam na unidade mais de 7 mil pessoas – hoje, apenas duzentas continuam no canteiro de obras. As duas unidades trabalhavam em contratos relacionados à Petrobras – além da conversão de navios-plataforma, o estaleiro era responsável também pela construção de sondas de perfuração para a Sete Brasil. Atualmente, o grupo aguarda liberação de financiamentos no valor de R$ 600 milhões pelo Banco do Brasil e Caixa, e mais R$ 900 milhões em repasses da Sete Brasil.