Tornou-se pública a polêmica envolvendo a longeva permanência de Paulo Antônio Skaf na presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em reunião extraordinária em 24 de novembro, sindicatos filiados a entidade votaram por uma alteração no estatuto da federação para permitir a permanência de Skaf e da atual diretoria, cujo mandato terminaria em 27 de setembro de 2015. Essa foi, ao menos, a segunda alteração no estatuto da Fiesp feita para permitir a permanência de Skaf na presidência.
Quando ele assumiu o comando da entidade pela primeira vez em setembro de 2004, o mandato de presidente da Fiesp era de três anos. O estatuto então foi alterado para estabelecer o mandato de quatro anos e permitir uma reeleição. Lá se foram 10 anos e Skaf permanece no cargo. Agora, o mandato foi estendido até dezembro de 2017, o que lhe garante 13 anos à frente da entidade.
Ontem o economista e ex-diretor da área internacional da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, se posicionou contra essas estratégias da atual diretoria para permanecer à frente da entidade. Em artigo intitulado Golpe na Fiesp, publicado no jornal Folha de S. Paulo, defendeu o princípio da alternância de poder.
“Se a presidente da república ou o governador de São Paulo Geraldo Alckmin fizessem algo do gênero, Skaf seria o primeiro a sair na rua para reclamar”, disse Giannetti da Fonseca em entrevista ao Estado. “Se uma entidade como a Fiesp não dá o exemplo, como vamos exigir dos outros?”
Na avaliação do economista, o estatuto da Fiesp nunca poderia ter sido alterado. “O que estamos vendo é um AI-5 privado na Fiesp”, disse, fazendo uma analogia com o Ato Institucional número 5, decreto emitido durante a ditadura que fechou o congresso e cassou direitos políticos a partir de 1968.
Na sua avaliação, a atual diretoria “não está atuando em benefício coletivo do setor industrial, mas se colocando a serviço de campanhas político partidárias”. Para lembrar, na última eleição, Skaf concorreu ao governo do estado de São Paulo.
Na assembleia que estendeu o mandato de Skaf, dos 131 sindicato filiados, 92 votaram a favor dele, 34 não compareceram e 5 se posicionaram contra: os sindicatos que representam os setores de peças, máquinas, fundição, açúcar e álcool.
Alternância
“Votamos contra porque na nossa entidade preza a alternância de poder – e nosso delegado avisou ao Skaf previamente que essa era a nossa posição”, disse José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que atua em conjunto com o sindicato do setor. A entidade é uma das maiores com representação na Fiesp. Tem 6 mil associados. Segundo Velloso, vão respeitar o direito da maioria. “Todo mundo sabia que ele ia fazer o que fez e ninguém se mobilizou para impedir: a maioria da indústria quer Skaf, quem não quer precisa se organizar em uma próxima eleição”, disse. Para Velloso, a força do atual presidente é inquestionável. “Dentro dos muros da Fiesp, Paulo tem uma liderança poucas vezes vistas, se ela sai de lá, já não sei.”
A assessoria de Skaf disse que ele já estava em viagem e não se pronunciaria. No entanto, um de seus vice-presidentes, Nelson Pereira Reis, que comanda o Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos (Sinproquim), refutou as alegações de Giannetti da Fonseca. “Os sindicatos tomaram a iniciativa de prorrogar a atual gestão porque a indústria vive um momento delicado e é preciso manter a atual estratégia”, disse Reis. “Roberto não é industrial, não sei a razão de suas críticas.” Segundo o diretor da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, que também apoia Skaf, o processo foi transparente. “Os poucos que questionaram tiveram a oportunidade de falar”, disse. “A extensão do mandato é legítima.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.