Estudantes estão se mobilizando por meio das redes sociais para cobrar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) uma revisão das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Parte dos candidatos que realizaram as provas reclamam que as notas, divulgadas na segunda-feira, 29, estariam erradas.
A mobilização dos alunos ocorre pelas redes sociais, como o Twitter onde a hashtag #revisaodaredacao reuniu relatos de estudantes enfrentando o suposto problema. Os estudantes pedem um posicionamento do Inep, que coordena o exame, sobre o assunto.
Hedra Marques Santos, 18 anos, passou um longo período preparando-se para o Enem. A estudante, que almeja cursar Medicina, tem um currículo invejável. Ela estudou no Objetivo Integrado, conseguiu uma bolsa de 100% no cursinho Poliedro e, no exame anterior, já havia alcançado uma nota expressiva em sua redação. "Eu tirei 920 pontos na redação no ano anterior. Aconteceu que a nota caiu para 800 neste ano. Achei muito estranho. Uma nota dessa me tira qualquer chance de entrar na universidade", disse Hedra.
Com a divulgação das notas, no último dia 29, Hedra notou que outros estudantes tiveram a mesma desconfiança. Ela começou a receber por WhatsApp, de conhecidos, relatos de outras reclamações parecidas com a sua. Além disso, viu que as redes sociais foram inundadas de depoimentos de estudantes indignados com o resultado.
"Não acredito em um erro na correção. Provavelmente foi um erro no sistema, na hora de disponibilizar essas notas. O histórico do Inep (órgão do MEC que coordena o exame) é de problemas do tipo. Espero que isso seja corrigido logo. Isso é muito sério, a gente estuda anos para chegar na hora (da nota) e ser prejudicado", completou Hedra.
Ela e outros estudantes procuraram um advogado para uma ação conjunta e coordenada. "Estamos preparando um pacote de medidas jurídicas. Queremos ter acesso ao espelho das provas para que os alunos possam ter certeza de suas notas. Agora, o grande problema é que o edital estabelece que o espelho será divulgado depois do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). O que significa que as vagas já estariam perdidas", explicou Márcio Danilo Doná, advogado dos estudantes.
Segundo Doná, o próximo passo é pedir um habeas data (instrumento jurídico para acessar dados pessoais sob posse do poder público ). "Se for preciso, entraremos com um mandado de segurança", disse.
Rafaela Arruda de Paula, 18 anos, é uma das organizadoras e criadoras de perfis no Twitter e no Instagram que estão reunindo os relatos dos estudantes. "Já temos quatro grupos de WhatsApp. São mais de 900 estudantes reclamando. Por isso, fizemos páginas em redes sociais para amplificar nossa voz", afirmou. Rafaela, que tenta uma vaga em Ciências Contábeis, disse que viu sua nota cair de 700 para 420. "Temos relatos de muitas notas repetidas, como 420 ou 320. O que nos faz acreditar que pode ter acontecido um erro no sistema", disse.
O estudante Lucas Rodrigo da Silva Gonçalves, de 22 anos, também está vivendo o drama de desconfiar das notas divulgadas pelo Enem. "Eu terminei o colégio em 2016. Desde então, faço provas do Enem – pois busco uma vaga em Medicina. Nos últimos anos, minhas notas foram 900 e 920 na redação. Desta vez, caiu para 680. Tenho certeza que ela não condiz com a minha redação. O tema era o estigma associado às doenças mentais. Tenho certeza que fiz uma redação adequada ao tema", disse.
<b>Inep</b>
Até a tarde desta quinta-feira, 1º, o Instituto não havia comentado diretamente sobre as reclamações, mas em suas redes voltou a divulgar informações sobre o processo de correção das provas. O Inep reforçou que "os textos dos participantes do Enem passam por até quatro correções para o cálculo da média final, o que correspondeu, nesta edição, a, aproximadamente, 7 milhões de análises dos textos válidos", conforme publicou no Twitter.
A reclamação sobre notas repete uma mobilização vista no ano passado. A divulgação dos resultados do Enem 2019, em janeiro de 2020, levantou queixas de erros, que acabou sendo reconhecido pelo órgão. Na oportunidade, o instituto apontou uma falha na gráfica como responsável pela avaliação mal conduzida para cerca de 6 mil candidatos.