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‘Eu vou dividir os poderes na Santa Casa’

Candidato único ao cargo de provedor da Santa Casa de São Paulo, o advogado e articulista do Estado Antonio Penteado Mendonça, de 64 anos, deverá ser aclamado vencedor na eleição marcada para a próxima quarta-feira. Em entrevista, ele afirma que uma de suas metas para o mandato de três anos será profissionalizar a gestão do complexo hospitalar paulistano para evitar que as decisões fiquem concentradas na figura do provedor, prática que, segundo ele, agravou a crise econômica enfrentada pela entidade nos últimos anos.

Mendonça promete buscar parcerias com empresários e planos de saúde na tentativa de melhorar a situação financeira da instituição, que hoje tem dívida de R$ 800 milhões. O advogado substituirá o médico José Luiz Setúbal, de 60 anos, que não quis concorrer à reeleição, mas faz parte da mesma chapa de Mendonça e deverá seguir como integrante da mesa administrativa.

Desde que entrou para a Irmandade, em 1995, o senhor sempre fez parte da administração da Santa Casa? Da administração, não. Eu era da mesa administrativa, que são coisas diferentes. A mesa tem direito a voto, mas não tomávamos as ações. Isso é algo que vamos mudar. Nos próximos 90 dias, queremos reordenar as competências da mesa administrativa, da provedoria e da diretoria executiva. O provedor acaba tendo um poder exagerado, mais do que precisa, mais do que deve, e por isso nós chegamos a essa crise. Se o Kalil (Abdalla, provedor entre 2008 e 2015 investigado por má gestão) não tivesse esse excesso de poder, não teria acontecido o que aconteceu. A Santa Casa teria tido uma crise econômica controlável.

Então o senhor vai diminuir os poderes do provedor? Eu vou dividir os poderes do provedor com a provedoria. Ela será composta por uma série de mordomos (espécie de diretores de área). O provedor será, evidentemente, o chefe da provedoria, mas as decisões serão tomadas no nível de colegiado. Estamos conversando com grandes consultorias que devem fazer um reordenamento do funcionamento da Santa Casa. Da mesma forma, estamos falando com grandes empresas de recursos humanos para que elas passem a validar as escolhas (dos contratados).

Sua gestão será de continuidade à do Setúbal? Vou dar continuidade ao que o José Luiz fez com esse passo a mais, uma profissionalização que ele não teve tempo de fazer. Outro projeto é criar um programa de investimento social para a Santa Casa. Pretendemos fazer uma aproximação com as federações do comércio e das indústrias para buscar investidores.

Como está a situação financeira da Santa Casa hoje? A dívida está na ordem de R$ 800 milhões, mais ou menos a mesma coisa (do fim da gestão do Kalil), mas com uma diferença importante: o perfil dela, em função do empréstimo com a Caixa Econômica Federal, de R$ 360 milhões, mudou. É muito mais longo e temos uma carência. Mas esse contrato com a Caixa vai ter de ser revisto neste ano porque é muito caro para a Santa Casa. Ele nos deu fôlego, mas o resultado operacional da Santa Casa, que ao longo do ano passado tinha atingido um equilíbrio interessante, voltou a ficar deficitário nos três primeiros meses deste ano.

Por quê? Isso ainda não está claro. Geralmente os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são meses de utilização menor em função de férias, então entra menos dinheiro, mas temos as mesmas despesas. Pode ser que seja por isso, mas estamos verificando. A grande fonte alternativa de receita da Santa Casa além do SUS deveria ser o Hospital Santa Isabel (rede privada). Em função da deterioração da Santa Casa, ele também teve queda de receita.

Há como reverter isso? Sim. Já comecei a conversar com os principais planos de saúde, que são os grandes clientes do Santa Isabel. Temos de reorganizá-lo em parceria com os planos. Até isso ser implementado, vai levar algum tempo, o que é terrível porque estamos com um déficit mensal de R$ 10 milhões.

As cirurgias eletivas continuam suspensas? Já houve uma retomada muito discreta. Há cirurgias eletivas sendo feitas, mas não no patamar anterior.

Os atendimentos pelo SUS serão ainda mais reduzidos? Não. O que pretendemos é aumentar a capacidade do Santa Isabel em atender pacientes privados.

O senhor pretende fazer novas demissões? Pretender eu não pretendo porque acho que despedir bons profissionais é algo dramático. Mas não sei se vou precisar despedir porque tenho um déficit de R$ 10 milhões por mês. A ideia é retomar os atendimentos. O dado muito bom é que o nosso balanço desse ano vai vir com o patrimônio positivo, ou seja, nosso patrimônio é maior do que as dívidas. Com essa reversão, podemos entrar em licitações e passar a gerar novas receitas.

Quais serão as marcas da sua gestão? A primeira ação será fazer a Santa Casa recuperar a capacidade de atendimento, não no nível anterior, porque isso seria sonho, mas de forma a torná-la sustentável. A segunda ação é fazer isso com transparência. E a terceira ação é, daqui a três anos, quando sair da provedoria, ver a Santa Casa blindada para uma crise como a que ela teve, de uma pessoa desestruturar tudo porque tinha poder para isso. A Santa Casa vai ter de estar com uma gestão profissional, administrada por profissionais competentes. Minha marca vai ser fazer a Santa Casa funcionar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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