A reprecificação da chance de corte de juros nos Estados Unidos ainda no primeiro trimestre, que tem afetado o apetite por risco em todo o mundo neste começo de ano, continuou a cobrar tributo da B3 nesta quarta-feira, 17. Hoje, o Ibovespa fechou em baixa de 0,60%, após o mergulho de 1,69% no dia anterior, que havia sido a maior perda para o índice desde 21 de setembro.
Assim, neste meio de semana, o Ibovespa desce mais um degrau, aos 128.523,83 pontos, distanciando-se aos poucos da máxima histórica de 134,1 mil pontos, do fim do ano passado. No piso da sessão, aos 128.311,94 pontos, manteve-se hoje no menor nível desde 13 de dezembro, dia anterior ao início da série de renovações de recordes, no intradia como no fechamento, que se estenderia com poucas interrupções até o fim de 2023. E, como ontem, praticamente operou só em baixa, com a máxima (129.296,43) quase correspondendo à abertura (129.293,35) desta quarta-feira.
O giro financeiro, em dia de vencimento de opções sobre o índice, subiu para R$ 43,9 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa recua 1,88% e, no mês, cede 4,22%.
Agora, o mercado se divide em relação às apostas quanto ao momento em que começará o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos: a chance de o Federal Reserve (o BC dos EUA) iniciar o corte na taxa de juros de referência já em março – alternativa que havia se fortalecido em dezembro passado, energizando então os mercados globais – recuou ainda mais, conforme a CME, que monitora a curva futura.
No meio da tarde, a plataforma indicava 53,2% de probabilidade de o Fed cortar a taxa básica em março, comparada a 66,9%, ontem. A possibilidade de ocorrer manutenção passou para 46,8%, hoje. Antes da divulgação, em 3 de janeiro, da ata da mais recente reunião de política monetária do BC americano, realizada em dezembro, a curva futura chegou a embutir cerca de 80% de chance de que um corte de juros viria em março.
Desde então, a ata, bem como uma nova fornada de dados dos EUA – incluindo a inflação de dezembro (acima do esperado) – e novas declarações de autoridades do Fed, fizeram o otimismo refluir, com realinhamento de rendimentos dos Treasuries – que voltam a se firmar acima do limiar de 4% nos vencimentos de 2 anos (hoje, a 4,37% na máxima do dia), de 10 anos (4,13%) e de 30 anos (4,34%).
Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, destaca nesta quarta-feira a leitura acima do esperado para as vendas do varejo nos Estados Unidos, em alta de 0,6% em dezembro, na margem, frente expectativa de consenso a 0,4% para o mês. Além de dados econômicos resilientes nos Estados Unidos, que afetam diretamente a perspectiva para os juros americanos, a insegurança que tem afetado o tráfego de embarcações de carga pelo Mar Vermelho – muito importante para o comércio global por proporcionar o encurtamento de rotas, especialmente entre Europa e Ásia, pelo canal de Suez – é outro fator de incerteza com implicações diretas para a economia.
"A tensão quanto a conflitos no Mar Vermelho pode impactar a inflação e os juros globais, o que já tem feito preço nos últimos dias, contribuindo para as quedas nas bolsas", acrescenta Cardozo.
Além dos desdobramentos em torno dos Estados Unidos e do Oriente Médio, os investidores na B3, pela forte exposição da Bolsa a commodities, seguem tomando o pulso da economia chinesa. Embora tenha crescido 5,2% em 2023 – acima da meta oficial, de 5% -, a China mostrou enfraquecimento na ponta, no quarto trimestre. Em dezembro, conforme dados divulgados no fim da noite de ontem, chamaram atenção os dados de varejo, com vendas abaixo do previsto, na base ano a ano.
"Parte dos dados da China decepcionou de certa forma os analistas, principalmente quando se olha para o mercado imobiliário do país, em sua maior retração em nove anos", diz Erik Sala, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos. Ele acrescenta que a falta de estímulos significativos, que induzam retomada de ritmo na economia chinesa, tem trazido inquietação, com efeito direto na precificação de ativos correlacionados à demanda do país asiático, como os do setor metálico.
Assim, com o prosseguimento na correção dos preços do minério de ferro na China, Vale ON, a ação de maior peso individual no Ibovespa, caiu hoje 1,66%, em piora ao longo da tarde que contribuiu para que o índice da B3 seguisse colado às mínimas na etapa vespertina – no pior momento, Vale cedia mais de 2% na sessão. Entre as siderúrgicas, destaque nesta quarta-feira para a queda de 2,91% em CSN ON.
Petrobras ON e PN também pesaram hoje, embora tenham suavizado perdas em direção ao fechamento, com a ON ainda em baixa de 0,83% e a PN, de 0,58%. Os grandes bancos, por sua vez, chegaram a perder força à tarde, mas se recuperaram no encerramento, com Santander (Unit +1,04%) à frente na sessão.
Na ponta vencedora do Ibovespa, destaque nesta quarta-feira para SLC Agrícola (+3,87%) – único papel a ter subido ontem entre os 87 da carteira teórica do índice -, à frente hoje de Natura (+2,63%), MRV (+1,80%) e Locaweb (+1,66%). No lado oposto, 3R Petroleum (-3,97%), Pão de Açúcar (-3,78%) e Vamos (-3,55%).