Nações ocidentais tentam retirar diplomatas e cidadãos de Cartum, enquanto batalhas entre as facções rivais que disputam o poder no Sudão se alastraram para o centro da capital sudanesa e a cidade vizinha, Omdurman. O país vinha sendo governado por militares que derrubaram o poder civil em 2021.
Três tentativas de cessar-fogo falharam e o número de mortos já passou de 420, entre eles 264 civis. Há mais de 3.700 feridos, segundo ONGs locais e internacionais.
Neste domingo, 23, o Reino Unido retirou sua equipe diplomática de Cartum, em uma operação complexa que envolveu mais de 1.200 militares. Os EUA também retiraram diplomatas, funcionários da embaixada e suas famílias de Cartum na noite de sábado. Foram enviados helicópteros Chinook com forças especiais para remover ao menos 70 americanos para um local não revelado na Etiópia. O Ministério das Relações Exteriores da França disse no domingo que uma "operação de retirada rápida" havia começado e cidadãos europeus e de "países parceiros" também seriam ajudados, sem dar mais detalhes.
Um grande entrave a essas operações é a luta pelo aeroporto de Cartum, que sofreu danos significativos desde o início do conflito, há nove dias. No domingo, os serviços de internet e telefone falharam em grande parte do país. Remédios, combustível e alimentos eram escassos em Cartum. Uma combinação de combates e saques tornava perigoso sair de casa em busca de provisões. Uma nova trégua, que deveria coincidir com o feriado muçulmano de três dias de Eid al-Fitr, falhou no sábado. Civis em fuga são barrados na fronteira do Sudão e impedidos de escapar pelos dois lados envolvidos no conflito.
<b>Conflito</b>
A disputa ocorre entre os generais Abdel-Fattah Burhan, que controla o Exército, e Mohammed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, líder do poderoso grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR). Desde outubro de 2021, quando os militares tomaram o poder, o país é governado pelos dois, que se aliaram para derrubar o governo civil.
Nos últimos meses, as rusgas entre eles se tornaram públicas e ambos começaram a destacar silenciosamente tropas e equipamentos para bases militares ao redor do país. Os EUA e outras nações tentaram em vão persuadir os dois generais a transferir o poder a um governo liderado por civis.
Terceiro maior país de África em extensão (1,8 milhão de km22) – e um dos mais pobres do mundo – o Sudão fica em um estratégico ponto no nordeste da África. O país de 48 milhões de habitantes se tornou um importante ator de disputa na disputa por influência na região entre a Rússia e as potências ocidentais.
O grupo paramilitar mercenário russo Wagner já enviou tropas para o Sudão, além de comandar uma importância concessão de exploração de minas de ouro. Os mercenários russos apoiam hoje as forças paramilitares. O Sudão ainda foi alvo de pressão do Kremlin para que os navios de guerra russos pudessem atracar nos portos da costa do Mar Vermelho.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>