Estadão

EUA e UE apertam cerco ao Irã, mas isolamento dificulta novas sanções

Israel aumentou nesta terça, 16, a pressão por novas sanções ao Irã, ao enviar carta a 32 países exigindo punição pelo ataque iraniano do fim de semana. EUA e União Europeia prometeram apertar o cerco, mas esbarram em dificuldades para encontrar novas medidas contra um país isolado e já atolado em sanções.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, garantiu ontem que o governo americano prepara um novo pacote de sanções, mas não deu detalhes. Ela sugeriu que as medidas poderiam envolver mais restrições às exportações de petróleo iraniano.

A medida, porém, tende a pressionar o preço dos combustíveis em um ano eleitoral, um movimento arriscado para o presidente americano, Joe Biden, que enfrenta uma disputa apertada pela Casa Branca contra o republicano Donald Trump, em novembro.

<b>Componentes</b>

Outra medida analisada pelos EUA é cortar o acesso iraniano a componentes militares usados na construção de armas, como os drones que atacaram Israel no fim de semana. No entanto, como lembrou Yellen, a Casa Branca já impôs sanções a mais de 500 indivíduos e entidades do Irã nos últimos três anos, deixando poucas alternativas. "Espero que tomemos medidas adicionais contra o Irã nos próximos dias", disse Yellen.

Um dos obstáculos enfrentados pelos EUA e seus aliados é a facilidade do Irã em driblar as sanções com o apoio de países que já são alvo de restrições americanas ou que vivem às turras com Washington, como é o caso de Rússia e China, que também fornecem armas ou tecnologia ao Irã.

O fato de os EUA terem se retirado do acordo nuclear com o Irã, em 2017, durante a presidência de Donald Trump, também deixa o Ocidente com pouca margem de manobra. Os iranianos se aproximam cada vez mais da capacidade de produzir uma arma atômica, sem sentir a necessidade de mudar de rota. "A dissuasão israelense e americana contra o Irã fracassou", disse John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump.

<b>Resposta</b>

"Analistas temem haver atualmente menos mecanismos para influenciar o Irã, especialmente se o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, responder ao ataque iraniano com uma ofensiva", escreveu o colunista David Sanger, do New York Times. "Uma das maiores preocupações é o Irã ter todo incentivo para ir adiante com seu programa nuclear."

No sábado, o Irã lançou mais de 300 mísseis e drones contra Israel, que diz ter abatido 99% deles. O ataque foi uma resposta ao bombardeio do dia 1.º, quando os israelenses destruíram a seção consular da Embaixada do Irã em Damasco, matando 12 pessoas, entre elas 7 comandantes da Guarda Revolucionária.

O governo iraniano deu o caso por encerrado, mas prometeu voltar à carga caso Israel respondesse com um novo ataque, como prometeu o gabinete de guerra do governo israelense. Ontem, diplomatas pressionaram Netanyahu a moderar a retaliação, buscando evitar uma escalada e um confronto mais amplo.

<b>Equilíbrio</b>

O desafio de americanos e europeus é encontrar maneiras de punir o Irã sem alimentar a guerra no Oriente Médio. O Conselho de Relações Exteriores da UE se reuniu ontem em Bruxelas para discutir alternativas para acalmar as tensões.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, viajou ontem para Israel para tentar convencer os israelenses a equilibrar a resposta ao Irã. "É fundamental que todos trabalhemos juntos para reduzir a tensão na região", disse.

Israel, no entanto, pressiona por mais sanções – além de uma resposta militar. O chanceler israelense, Israel Katz, disse ontem ter enviado cartas a 32 países pedindo mais sanções ao programa de mísseis do Irã e exigindo que a Guarda Revolucionária seja declarada organização terrorista. "O Irã deve ser parado agora, antes que seja tarde demais", afirmou Katz.

Embora tenha citado cartas a 32 países, o chanceler de Israel marcou 34 em seu comunicado no X (ex-Twitter). A lista inclui os 27 membros da UE, EUA, Canadá, Austrália, Índia, Japão, Argentina e Paraguai – mas não o Brasil.

O risco de um ataque retaliatório é incendiar ainda mais a crise. Ontem, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou que responderá de forma severa a qualquer ação militar de Israel. "Declaramos de maneira firme que a menor ação contra os interesses do Irã vai provocar uma resposta severa, extensa e dolorosa contra todos os seus autores", disse Raisi. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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