Os Estados Unidos fizeram um aceno ao Brasil com o anúncio de novos investimentos nesta quarta-feira, 13. O país vai receber o primeiro escritório na América Latina da agência americana que fomenta o desenvolvimento em países em desenvolvimento e tem uma capacidade geral de US$ 60 bilhões em sua carteira.
A chamado Corporação Financeira dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (DFC da sigla em inglês), funciona como uma espécie de banco do desenvolvimento. E faz parceiras com o setor privado para investir em áreas como energia, saúde, infraestrutura crítica e tecnologia.
"Isso é parte da parceria mais ampla entre os Estados Unidos e o Brasil. É claro que laços diplomáticos, culturais e políticos são incrivelmente importantes, mas, do meu ponto de vista, fazer negócios juntos é o que realmente aproxima", disse o diretor-presidente da FCD, Scott Nathan, em evento na Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil).
Na ocasião, a DFC anunciou também o empréstimo de R$ 2 bilhões para Stone, fintech que oferece serviços de pagamento. O aporte deve ser usado para ajudar pequenas empresas.
A agência americana que apoia projetos nos países em desenvolvimento foi criada por meio do chamado Build Act, assinado em 2018, durante o governo do ex-presidente Donald Trump. A lei busca reestruturar as ferramentas de financiamento dos EUA para fazer frente à influência econômica que a China conquistou nos países em desenvolvimento com seu mega projeto de infraestrutura "Belt and Road" (Cinturão e Rota), também chamada de Nova Rota da Seda.
A iniciativa, lançada por Xi Jinping há uma década, conta com a adesão de 150 países em todo o mundo, sendo 22 na América Latina, contrariando os alertas dos EUA sobre a "armadilha da dívida" com a China.
Questionado pela imprensa sobre a crescente influência chinesa – e a dependência que a região tem dos investimentos de Pequim -, Scott Nathan disse (sem mencionar diretamente a China) que a agência americana não tenta "impor" o dinheiro ou dizer aos países o que fazer.
"Esses projetos precisam ser comercialmente viáveis. Precisam seguir altos padrões socioambientais, governança, transparência. Acreditamos que, no final do dia, embora possa levar um pouco mais de tempo para atingir esses padrões, são parceiros sustentáveis a longo prazo, que não sobrecarregam os países com dívidas", disse.
Na mesma linha, a agência se apresenta em seu site como uma alternativa às "iniciativas insustentáveis e irresponsáveis dirigidas por Estado".
O Brasil, pelo menos até aqui, tem frustrado os convites de Pequim para se juntar à Nova Rota da Seda. Quando visitou a China, no ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resistiu em aderir a iniciativa, manifestando apenas o interesse em "examinar sinergias" em investimentos, que poderiam incluir o mega projeto de infraestrutura. A adesão seria um gesto político para Pequim em meio à tensão com os EUA e divide opiniões dentro do governo, como mostrou o <b>Estadão</b>.
Mas a China não parou de cortejar o Brasil. Em visita ao País, o ministro das Relações Exteriores Wang Yi propôs que os investimentos da Nova Rota da Seda fossem unidos ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), relançado por Lula no ano passado.
Em discurso no Palácio do Itamaraty em janeiro, Wang Yi sugeriu que os governos devem trabalhar em conjunto para aproximar os objetivos "entre a iniciativa Cinturão e Rota e o PAC do Brasil". E disse que há interesse em maior cooperação em áreas como agricultura, economia verde e inteligência artificial, entre outras.