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EUA: Por medo da recessão, IPOs secam e Wall Street pode viver onda de demissões

Depois de um primeiro semestre mais lento no mercado de capitais dos EUA, marcado por elevada volatilidade devido à elevação dos juros e o risco de recessão na maior economia do mundo, a próxima metade do ano pode ser desafiadora para Wall Street. O número de aberturas de capitais (IPO, na sigla em inglês) desabou frente ao boom de 2021, enquanto os negócios de renda fixa e fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) encolheram. Sem sinais de reversão para os próximos meses, o cenário já preocupa quanto a uma possível onda de demissões, depois do reforço feito na pandemia para dar conta da injeção de trilhões de dólares feita por bancos centrais para atenuar o efeito da covid-19 nos mercados.

Diferentes consultorias revelam a mesma realidade: o semestre encerrado neste domingo, 3, foi o mais fraco dos últimos anos. O volume de IPOs nos Estados Unidos desabou 80% ante idêntico intervalo de 2021, quando o país foi palco de centenas de operações. É o primeiro semestre mais fraco para Wall Street desde 2016, de acordo com a inglesa Refinitiv.

"O mercado está praticamente todo fechado. Precisamos de alguns meses de baixa volatilidade, com uma performance melhor, um pouco mais de clareza de como o governo (dos EUA) vai controlar a inflação", afirma o chefe de mercados internacionais da Nyse, Alex Ibrahim, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Na renda fixa e nos M&As, o cenário foi menos desanimador, mas ainda assim, as receitas de ambas áreas encolheram. De acordo com a consultoria norte-americana Dealogic, a queda do volume financeiro que circulou nos bancos de investimentos durante o primeiro semestre foi ao redor de meio bilhão de dólares. Na renda fixa, os banqueiros de Wall Street deixaram de capitanear US$ 585 milhões em operações. Já a cifra dos negócios de fusões e aquisições renderam foi US$ 471 milhões menor.

O baque nas receitas dos grandes bancos dos EUA, em especial, na área responsável por estruturar operações de mercado de capitais, ficará nítido com a divulgação de resultados do segundo trimestre e da primeira metade do ano, neste mês. Preocupa exatamente o pós-divulgação, quando os bancos norte-americanos podem ter de cortar custos para compensar o fraco ambiente de negócios, com demissões nas quadras do distrito financeiro da Big Apple.

Matéria da norte-americana CNBC indica que podem ocorrer cortes em Wall Street pela primeira vez desde 2019. O cenário mais previsível para a segunda metade do ano é de RIF , jargão utilizado pelo setor de recursos humanos, da sigla em inglês reduction in force . Na prática, significa demissões. Antes dela, a revista Business Insider já havia alertado para uma "próxima grande rodada de demissões em Wall Street".

Para a diretora distrital sênior da Robert Half, Dawn Fay, ainda é cedo para prever o que virá no segundo semestre, com o mercado apertado de trabalho nos Estados Unidos. Na primeira metade do ano, diz, mencionando uma pesquisa da consultoria, o cenário era outro, com a maioria dos empregadores do setor financeiro planejando contratar. "Os trabalhadores estão aproveitando o robusto mercado de trabalho a seu favor e buscando oportunidades com melhores salários, potencial de crescimento e opções de trabalho remoto", afirma Fay, em entrevista ao <b>Estadão/Broadcast</b>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Essa semana, chamou atenção o fato de Citibank e JPMorgan não terem seguido seus rivais Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America e Wells Fargo, que reforçaram a distribuição de dividendos a seus acionistas após o teste de estresse anual do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). A autoridade atestou que Wall Street tem capacidade de sobra para enfrentar um cenário difícil e até mesmo uma recessão global. Em números, significa, conforme o Fed, digerir mais de US$ 600 bilhões em perdas e seguir tocando a vida, emprestando dinheiro aos consumidores e às empresas nos Estados Unidos.

Com uma recessão batendo à porta, Citi e JP optaram pelo conservadorismo. A justificativa de ambos foi a de que podem vir a necessitar de mais capital no futuro, deixando em aberto eventual preocupação com dias mais difíceis na economia norte-americana.

A agência S&P Global Ratings alertou ainda que vários bancos dos Estados Unidos tiveram desempenho pior no teste do Fed deste ano, mais rigoroso do realizado em 2021. Por conta disso, enfrentarão requisitos mínimos de capital um pouco mais altos como resultado, afirma. "Três dos bancos globais sistemicamente importantes – Bank of America Corp., Citigroup Inc. e JPMorgan Chase & Co. – provavelmente precisarão aumentar seus índices de capital nos próximos trimestres", diz a agência, respaldando a cautela de Citi e JP.

No início do mês, líderes de Wall Street admitiram que o cenário é desafiador, em meio à proeminência de uma recessão nos EUA. O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, resumiu os desafios dos EUA como um "furacão". "Só não sabemos se é uma pequena tempestade ou a Supertempestade Sandy. Você tem de se preparar", acrescentou.

Na sequência, o presidente e chefe de operações (COO, na sigla em inglês) do Goldman Sachs, John Waldron, chancelou o discurso do rival ao afirmar que a atual turbulência econômica é uma das "mais desafiadoras" que já viveu. Depois do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA vir fraco no primeiro trimestre e com a inflação elevada, a maior que quatro décadas, analistas econômicos devem recalcular a rota da economia norte-americana.

O temor de recessão na maior economia do mundo cresce a cada dia, o que tem pesado nos mercados acionários, com o S&P 500 tendo seu pior primeiro semestre desde a década de 1970, quando os EUA também lutavam contra o fantasma dos preços descontrolados. Para o CEO do Morgan Stanley, James Gorman, as chances de os Estados Unidos enfrentarem um período recessivo à frente já são de 50%. "É possível que entremos em recessão, obviamente. Provavelmente, 50-50 (%) agora", disse, em recente teleconferência do banco com investidores.

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