Os EUA se opõem a uma nova ocupação por tempo indeterminado da Faixa de Gaza por Israel, como sugeriu o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na segunda-feira, 7. "Em nossa opinião, os palestinos deveriam estar à frente destas decisões. Gaza é território palestino e continuará sendo território palestino", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.
Na segunda-feira, em entrevista à emissora americana ABC, Netanyahu afirmou que Israel terá de supervisionar a segurança da Faixa de Gaza "por um período indefinido" quando a guerra com o Hamas terminar. "Já vimos o que acontece quando não temos essa responsabilidade: a erupção do terror do Hamas em uma escala que não poderíamos imaginar", disse o premiê.
O governo de Israel afirmou que seu objetivo na guerra é destruir o Hamas, que controla o território, e "despojá-lo de suas capacidades militares", em resposta aos atentados de 7 de outubro, quando terroristas do grupo mataram 1,4 mil israelenses e tomaram cerca de 240 reféns, que estão no cativeiro em Gaza.
Autoridades israelenses, no entanto, têm sido vagas sobre quem deve dar as cartas no enclave depois da guerra, e as declarações de Netanyahu parecem indicar que Israel está se preparando para desempenhar pelo menos algum papel no controle da segurança.
<b>Ocupação</b>
Na entrevista à ABC, o premiê não deu mais detalhes, mas o seu plano, se colocado em prática, significaria quase uma reocupação total de Gaza, uma medida que os EUA e outros países rejeitam.
Tanto o presidente americano, Joe Biden, quanto o secretário de Estado, Antony Blinken, disseram que a Autoridade Palestina deve desempenhar um papel central no futuro do enclave. Na semana passada, Blinken chegou a sugerir que um consórcio internacional assuma Gaza, caso os palestinos rejeitem a ideia.
A posição de Netanyahu, porém, parece ter amplo apoio político em Israel. Yair Lapid, o líder da oposição centrista e um dos mais duros críticos do premiê, disse ontem que concordar com ele. Em entrevista à rádio Kan, ele disse que os israelenses não querem financiar escolas e hospitais de Gaza. "É do interesse de Israel devolver as funções à Autoridade Palestina", afirmou. "Mas o premiê está certo. O controle da segurança tem de ser nosso."
<b>Controle</b>
Israel controlou Gaza de 1967 a 2005, quando o então primeiro-ministro, Ariel Sharon, decidiu retirar-se completamente do território. A saída significou o desmonte de instalações militares e o reassentamento de 9 mil israelenses que viviam em 21 colônias dentro do enclave palestino.
Nos cálculos de Sharon, manter o controle do território havia se tornado caro demais, tanto do ponto de vista econômico quanto humano, já que a ocupação militar também representava um risco muito alto para a vida dos soldados israelenses.
Em 2006, os palestinos organizaram eleições e o Hamas venceu o Fatah, grupo rival moderado. Mas EUA e União Europeia ameaçaram cortar a ajuda financeira se o grupo assumisse o poder – o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, chegou a ser nomeado primeiro-ministro.
No ano seguinte, diante do impasse político, o Hamas expulsou todos os dissidentes e assumiu o poder na Faixa de Gaza, deixando a Cisjordânia sob o comando de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e membro do Fatah. Desde então, Israel impõe um rígido controle sobre o que sai e o que entra no território.
<b>Assistência</b>
Um dos problemas de Israel, portanto, é como separar um acordo de segurança de suas obrigações com a população, já que a presença militar tornaria a ocupação mais evidente. Segundo a Convenção de Genebra, o país seria responsável por comida, suprimentos médicos, roupas e moradia. Mas não é essa a ideia de muitos aliados de Netanyahu. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, sugeriu o oposto e afirmou que Israel precisa se livrar de qualquer responsabilidade pelo território. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>