O Partido Democrata deu um passo importante nesta segunda-feira, 2, para a construção de uma candidatura de centro nas eleições de novembro. O ex-prefeito Pete Buttigieg e a senadora Amy Klobuchar, nomes moderados, desistiram da campanha e anunciaram apoio ao ex-vice-presidente Joe Biden, que se consolida como o principal adversário da ala radical representada por Bernie Sanders.
Depois de um começo ruim, Biden se recuperou no fim de semana, ao vencer as primárias da Carolina do Sul e ganhar novo fôlego para a Superterça de hoje, quando 14 Estados e 1 território americanos escolhem cerca de um terço dos delegados que definirão o candidato do partido na convenção nacional em Milwaukee (Wisconsin), em julho.
Com quatro prévias realizadas até então, Sanders se firmou como o favorito dos progressistas, concorrendo apenas contra a senadora Elizabeth Warren, cuja campanha nunca decolou. Do outro lado, o cenário era pulverizado demais entre Biden, o magnata Mike Bloomberg, além de Buttigieg e Klobuchar. Os quatro vinham dividindo os votos dos moderados, permitindo que Sanders acumulasse delegados. Se o cenário demorasse a se definir, o risco era de o senador progressista conseguir uma vantagem insuperável e obter a nomeação do partido de maneira incontestável.
A movimentação de ontem é importante para Biden, porque as primárias estaduais têm uma cláusula de barreira de 15% dos votos para a distribuição dos delegados – quem fica abaixo dela sai sem nada nos Estados. Em alguns lugares, como na Califórnia, que tem direito a 415 delegados, o ex-vice-presidente americano aparece com 14% em muitas pesquisas. A migração para ele de apenas 1 ponto porcentual de Buttigieg e Klobuchar, portanto, seria crucial.
No domingo, 1, Buttigieg anunciou que sairia da disputa. Ontem, foi a vez de Klobuchar. Os dois estiveram ao lado de Biden ontem em um comício na cidade de Dallas, no Texas, onde anunciaram o apoio a Biden. A aliança de centro é vista como uma reação organizada do establishment do partido ao crescimento de Sanders.
Além de marcar o antagonismo de Biden e Sanders, a Superterça de hoje marcará a estreia oficial de Bloomberg, bilionário que se lançou atrasado na disputa – ele não participou das quatro primeiras prévias – e torrou milhões de dólares na campanha. Segundo pesquisas recentes, porém, ele corre o risco de terminar a noite de hoje sem ter vencido nenhum Estado – embora esteja à frente em Arkansas.
Nesta segunda, o site do jornal Politico publicou reportagem de bastidores da campanha afirmando que vem crescendo a pressão para que Bloomberg também desista da corrida, hipotecando apoio a Biden. Desde a semana passada, segundo fontes do jornal, assessores das duas campanhas vêm negociando um apoio formal.
<b>Reação</b>
O fortalecimento de um candidato de centro parece ter incomodado a campanha de Trump. "Eles estão armando um golpe contra Bernie", escreveu ontem o presidente no Twitter, após o anúncio de Klobuchar. Trump aposta na polarização com Sanders, considerado por muitos um radical de esquerda – ele mesmo se define como "socialista democrata".
Os eleitores de Biden não são os mesmos que de Sanders. O ex-vice-presidente tem mais apoio da população acima de 55 anos, mas luta para conseguir o mesmo prestígio que Sanders tem entre os jovens.
Robert DeLawrence, músico e morador de Charlotte, na Carolina do Norte, fala das preocupações com o futuro de seus filhos aos falar sobre a eleição. "Joe Biden já se provou. Sabemos seu histórico. Não estou dizendo que ele é perfeito, mas pelo menos sabemos que ele é apaixonado pelas pessoas", disse. Já a estudante Jayla Myers defende as ideias de Sanders, mas ainda não se decidiu e pensa em votar em Bloomberg. "Eu vejo ele sempre em anúncios na TV", afirmou. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>