Altos funcionários do Pentágono afirmaram que os Estados Unidos se preparam para enviar o sistema antiaéreo Patriot para a Ucrânia, colaboração que equiparia Kiev com a mais moderna arma do tipo no arsenal americano. A medida, ainda não autorizada pelo presidente Joe Biden ou pelo secretário de Defesa Lloyd Austin, provocou reação do Kremlin, que prometeu ataques preventivos contra os carregamentos americanos, sem deixar claro se tentariam destruir os mísseis ainda em posse dos americanos, antes da chegada deles ao país do Leste Europeu.
Embora não tenha sido aprovado, o plano pode ser autorizado em breve, segundo autoridades que falaram sob condição de anonimato com o The Washington Post. Isso atenderia a um dos maiores e mais frequentes pedidos da Ucrânia a Washington, e ocorre após semanas de bombardeio russo que mergulhou grande parte do país no frio e na escuridão à medida que o inverno chega.
O governo Biden já comprometeu cerca de US$ 20 bilhões (R$ 106 bilhões) em armas e equipamentos militares para a Ucrânia desde a invasão no final de fevereiro, mas resistiu ao envio de certos armamentos avançados – incluindo mísseis de longo alcance, caças e tanques – alegando que, aos olhos da Rússia, isso atrairia os EUA ainda mais para dentro da guerra. Outro fator apontado é a complexidade da manutenção e operação dos sistemas mais modernos.
O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca recomendou a reversão desta política apenas nas últimas semanas, quando a Rússia intensificou seus ataques e aumentou sua coordenação de defesa com o Irã para complementar um suprimento cada vez menor de drones e mísseis balísticos, de acordo com um dos alto funcionários ouvidos pelo jornal americano.
Em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 14, após as notícias sobre o envio dos mísseis serem publicadas pela imprensa americana, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que os Patriot "absolutamente" seriam alvos legítimos da Rússia.
Peskov confirmou que o entendimento do governo russo é o mesmo do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, que afirmou anteriormente que o sistema de defesa americano se tornaria "imediatamente um alvo legítimo das forças armadas do país". Apesar da declaração, Peskov disse que não detalharia os comentários, uma vez que o envio do carregamento foi alvo apenas de matérias jornalísticas, sem a confirmação de Washington.
Os Estados Unidos têm cerca de 15 batalhões equipados com os sistemas Patriot, muitos deles implantados na Europa e no Oriente Médio. Vários aliados e parceiros de Washington também têm seus próprios sistemas produzidos nos EUA.
O Departamento de Defesa americano trabalha agora nos parâmetros de um programa de treinamento, provavelmente na Alemanha. Em circunstâncias normais, o treinamento pode levar mais de seis meses. Outra autoridade dos EUA disse que as armas virão de estoques dos EUA, e não de unidades operacionais.
Fontes do governo americano afirmam que Biden assinará o plano de envio dos Patriot somente depois que o Pentágono responder a todas as perguntas sobre treinamento e manutenção, a legalidade de uma transferência e seu efeito na prontidão militar dos EUA.
<b>Necessidade x dificuldade de implantação</b>
Os Estados Unidos tomaram outras medidas para melhorar as defesas aéreas ucranianas, incluindo o envio de dois Sistemas Nacionais Avançados de Mísseis Superfície-Ar (NASAMS), no mês passado, e a assinatura de um contrato de US$ 1,2 bilhão (aproximadamente R$ 6,4 bi) para construir e fornecer mais seis nos próximos dois anos.
No início do conflito, as autoridades americanas também ajudaram a intermediar um acordo com a Eslováquia, um aliado da Otan, para enviar seu único sistema de defesa aérea S-300 para a Ucrânia em troca de unidades Patriot.
Mas não foi o suficiente. Os bombardeios russos, incluindo aqueles que utilizaram drones de fabricação iraniana, tornaram-se uma das maiores ameaças para a Ucrânia, destruindo boa parte de sua infraestrutura – a mais preocupante delas, a infraestrutura energética, com a aproximação do inverno. Com isso, a pressão pelo Patriot aumentou.
A desconfiança da capacidade técnica das tropas ucranianas utilizarem os equipamentos modernos, contudo, preocupam Washington, e foi apontada por analistas militares.
"Este será o equipamento mais desafiador que a Ucrânia recebeu até hoje", disse Mark F. Cancian, oficial militar aposentado dos EUA no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, cuja pesquisa durante a guerra se concentrou em suprimentos de armas. "Se os ucranianos tivessem um ou dois anos para absorver o Patriot, isso não seria um problema. Meu palpite é que o Pentágono está muito nervoso com isso".
Cancian disse que o Pentágono está "correndo um grande risco" ao implantar o sistema Patriot. "Acho que eles decidiram isso porque a necessidade de defesa aérea era tão grande, que eles estavam dispostos a correr um risco que não era o caso no passado."
<b>O sistema Patriot</b>
O sistema Patriot conta com um radar sofisticado para detectar ameaças recebidas e dispara mísseis de longo alcance para interceptá-las. Seus lançadores ficam em um chassi de caminhão e são altamente móveis. Cerca de 90 soldados são designados para um batalhão Patriot típico, que inclui até oito lançadores, cada um contendo entre quatro e 16 mísseis prontos para disparar, dependendo do tipo de munição.
Embora seja necessária uma equipe de apenas três pessoas para operar o sistema depois de implantado, geralmente é necessário uma ampla rede de apoio – o sistema foi projetado para ser usado em nível de batalhão, com cada um deles incluindo um quartel-general, empresa de manutenção e especialistas em comunicação.
Os mísseis lançados pelo Patriot podem atingir altitudes de até 79.000 pés, com alcance operacional, dependendo do tipo de munição utilizada, de até 160 km, para uso contra mísseis balísticos e de cruzeiro, bem como aeronaves. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)