O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está diante de um desafio duplo: seguir subindo os juros para derrubar a inflação nos Estados Unidos ou pausar o aperto monetário, considerando um cenário ainda de incertezas no setor bancário depois da quebra de dois bancos (Silicon Valley Bank e Signature) e de socorro a um terceiro (First Republic Bank). A expectativa majoritária em Wall Street é de nova alta de 0,25 ponto porcentual na taxa. O resultado será anunciado nesta quarta, 22.
A elevação colocaria os juros dos Fed Funds, a taxa básica americana, na faixa de 4,75% a 5% ao ano. Levantamento do CME Group confirma que esse é o cenário-base de 86,4% do mercado, ante 13,6% que veem chance de manutenção nos juros.
As expectativas para a reunião deste mês do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) sofreram um cavalo de pau nas últimas semanas em meio às tensões com o setor bancário nos EUA, e que ganharam reforço do outro lado do Atlântico com a nova crise do Credit Suisse.
No início do mês, ao prestar depoimento ao Senado americano, o presidente do Fed, Jerome Powell, deixou as portas abertas para uma aceleração da subida de juros nos EUA, sob a justificativa de um mercado de trabalho ainda bastante aquecido e de um custo de vida elevado no país. Depois de sua fala, as expectativas de uma alta de até 0,5 ponto chegaram a bater a casa dos 70%.
Mas a quebra de bancos foi vista como o primeiro sinal mais evidente dos impactos do processo de aperto monetário em curso, e reforçou os temores de uma recessão à vista na maior economia do mundo. O SVB, por exemplo, quebrou após seus títulos terem perdido valor em meio à alta dos juros, o que gerou uma corrida de saques a depósitos não segurados.
Pesa, sobretudo, uma elevada inflação nos EUA, fora o mercado de trabalho ainda aquecido. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro, que desacelerou, bem como o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que subiu 0,6% em janeiro e é a medida preferida do Fed, seguem bem acima da meta de inflação – de 2% ao ano.