Com a adoção de toques de recolher em novas regiões de França e Itália, o retorno do confinamento geral em Gales e o aumento das restrições em outras áreas do Reino Unido e da Espanha, a Europa reforça as medidas, a partir desta sexta-feira, 23, para tentar frear a segunda onda da pandemia de covid-19 no continente.
No momento, segundo o Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças (ECDC), a evolução da pandemia da covid-19 está gerando "grave preocupação" em 23 países da União Europeia (UE), assim como no Reino Unido.
Somente Finlândia, Chipre, Estônia e Grécia estão fora dessa relação. Há um mês, apenas sete países europeus estavam na lista vermelha.
Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, afirmou que o "número real" de pessoas infectadas pela covid-19 no país passa de três milhões, embora oficialmente o país tenha registrado um milhão de casos.
O chefe de governo explicou que a grande diferença é explicada pelo fato de que, no início da pandemia, a detecção era deficiente e, agora, "70% dos casos são diagnosticados".
"A situação é grave e vem de meses muito duros com a chegada do frio", advertiu Sánchez, em uma mensagem destinada a preparar a população para medidas mais duras que devem ser objeto de acordo entre as regiões autônomas.
Na Espanha, essas regiões tomam as decisões na área da saúde, junto com o governo central.
Antes do discurso de Sánchez, as autoridades de várias das 17 regiões autônomas do país anunciaram novas restrições, e algumas pediram ao Executivo central a adoção de um toque de recolher. A Espanha é um dos países mais afetados pela covid-19, com mais de 34.500 vítimas fatais.
<b>Natal digital?</b>
No Reino Unido, país mais castigado da Europa, com mais de 44.000 mortes provocadas pela doença confirmadas, entra em vigor em Gales um segundo confinamento geral nesta sexta-feira.
A região será a primeira do país a adotar a medida drástica, e seus mais de três milhões de habitantes terão de "permanecer em casa" até 9 de novembro.
Na Inglaterra, o governo de Boris Johnson tenta evitar um novo confinamento geral. Mais da metade de seus 56 milhões de habitantes vive, porém, em zonas com estado de alerta elevado e com importantes restrições.
Na quinta-feira, Jason Leitch, um dos coordenadores de Saúde da Escócia, advertiu que os cidadãos devem se preparar para um "Natal digital".
Na quinta-feira, a Irlanda se tornou o primeiro país europeu a adotar novamente o confinamento completo da população por seis semanas. O comércio não essencial permanecerá fechado, mas as escolas continuarão abertas.
O confinamento também se aproxima de Portugal, onde três municípios do norte do país, com 150.000 habitantes, adotam a medida a partir desta sexta-feira.
Mais de 40.000 novos casos diários na França
Na França, os números aumentam e nas últimas 24 horas foram diagnosticados mais de 41.600 casos, 15.000 a mais que no dia anterior, um recorde. O governo ampliou o toque de recolher noturno que já era aplicado em Paris e nas principais cidades do país para outras regiões.
A partir desta sexta-feira, a medida afetará 46 milhões de pessoas, dois terços da população, por seis semanas.
"As próximas semanas serão duras, e nossos serviços hospitalares passarão por um teste duro", alertou o primeiro-ministro Jean Castex.
A França se aproxima da marca de um milhão de pessoas infectadas, e a taxa de positivos alcança 14,3%, contra 4,5% no início de setembro.
Na Itália, a região de Lazio, onde fica Roma, instaura um toque de recolher a partir de sexta-feira, entre 23h e 5h, por 30 dias. A região se une a Campânia (sul) e Lombardia (norte), que adotaram medidas similares.
A situação também é grave no leste da Europa. A República Tcheca iniciou um confinamento parcial que deve prosseguir até 3 novembro.
Na Polônia, o primeiro-ministro anunciou nesta sexta-feira que todo país entra em "zona vermelha", com fechamentos parciais de escolas do Ensino Básico e de restaurantes. Nas últimas 24 horas, o país de 38 milhões de habitantes registrou 13.632 novos casos, um recorde.
Na vizinha Eslováquia, o primeiro-ministro anunciou um toque de recolher noturno parcial a partir de sábado.
<b>Vacina está por chegar</b>
Em todo planeta, a pandemia provocou 1,13 milhão de mortes desde dezembro e 41,7 milhões de contágios, mas o número real sem dúvida é maior.
Nos Estados Unidos, país mais afetado, o balanço supera 223.000 mortos e 8,4 milhões de contágios. A covid-19 ocupa um espaço central na reta final da campanha presidencial.
A pandemia foi um dos temas cruciais do debate de quinta-feira entre os dois candidatos, o presidente Donald Trump e seu rival democrata na disputa, o ex-vice-presidente Joe Biden, que declarou que o "responsável por tantas mortes não pode continuar sendo presidente".
"Estamos lutando contra o vírus firmemente", respondeu Trump, três semanas depois de testar positivo para covid-19.
"Temos uma vacina que está por chegar, será anunciada nas próximas semanas", completou. (AP)