Ex-coordenador da campanha de Donald Trump, Paul Manafort foi denunciado perante a Justiça Federal sob acusação de conspiração contra os Estados Unidos, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e financeira, omissão de seu trabalho como agente de governo estrangeiro e declarações falsas a autoridades americanas.
A denúncia foi apresentada na sexta-feira pelo procurador especial Robert Mueller, que foi nomeado em maio para comandar a investigação sobre a suspeita de interferência da Rússia na eleição dos EUA com o objetivo de beneficar Trump. Mas não há nenhuma menção à Rússia nem ao trabalho de Manafort na campanha republicana nas 31 páginas em que Mueller descreve suas supostas ações criminosas.
O documento foi apresentado em sigilo a um Grande Júri, que concluiu que há indícios suficientes para abertura de um processo criminal contra o consultor político e seu sócio, Rick Gates. Na manhã desta segunda-feira, Manafort se entregou ao FBI.
As acusações se concentram nos contratos que ambos tinham para assessorar o ex-presidente da Ucrânia Victor Yanukovych, aliado de Moscou derrubado em uma rebelião popular em 2014. Mueller sustenta que Manafort abriu uma série de empresas de fachada nos EUA, Ciprus, Granadines e Grã-Bretanha para receber pagamentos de milhões de dólares não declarados ao Fisco americano.
Os recursos depositados nessas entidades eram enviados por transferência bancária aos Estados Unidos sob o pretexto de pagamento para bens, serviços e imóveis. “Eles não declararam essas transferências como renda”, destaca Mueller. Segundo a denúncia, o esquema vigorou de 2008 a 2017, o que abrange o período em que Manafort trabalhou com Trump.
O consultor político entrou na campanha em março do ano passado, com a missão de organizar a convenção do Partido Republicano que consagrou a candidatura de Trump. Em junho, ele foi promovido a coordenador da campanha.
Sua permanência no time republicano se tornou insustentável em agosto, com a revelação de detalhes dos serviços que ele prestou a Yanukovych, pelos quais recebeu ao menos US$ 12 milhões. Na época, já havia a suspeita de que a Rússia atuava para beneficiar Trump e minar a candidatura de sua adversária, a democrata Hillary Clinton. Durante a convenção republicana, em julho de 2016, seu grupo atuou para modificar a plataforma do partido e excluir declarações de apoio ao atual governo da Ucrânia, que se opõe a Moscou.
“Manafort e Gates geraram denezas de milhões de dólares em renda como resultado de seu trabalho na Ucrânia. Para esconder os pagamentos da Ucrânia das autoridades dos Estados Unidos, de aproximadamente 2006 e até pelo menos durante 2016, Manafort e Gates lavaram dinheiro por meio de inúmeras corporações nos Estados Unidos e no exterior, associações e contas bancárias”, diz a acusação.
A legislação americana exige que lobbistas declarem ao Departamento de Justiça todos os trabalhos que realizam em nome de governos e entidades estrangeiros.
Em uma decisão que contrariou Trump, Mueller foi noemado pelo Departamento de Justiça como investigador especial para o caso em maio, pouco depois de o presidente demitir o então diretor do FBI, James Comey.
Trump nega que tenha havia qualquer conspiração entre sua campanha e a Rússia para influenciar a eleição e atribuiu as acusações a uma tentativa dos democratas de justificar a derrota de Hillary.