Assim como os cuidados e o tratamento de animais do Parque Zoológico de Guarulhos, as análises para detectar as causas das mortes são realizadas pela equipe do local. É o que afirma um ex-funcionário do parque. Isto pode por em xeque o resultados de exames necroscópicos dos animais mortos no local.
O funcionário, que preferiu não se identificar, destaca que os "procedimentos são feitos de forma inadequada, o que pode ter provocado a morte de alguns animais. Além disso, a equipe, supostamente, intimidaria os funcionários que identificam estes problemas".
O ex-funcionário menciona o caso da morte de um jacaré papo amarelo fêmea, há cerca de cinco anos. "O animal foi ferido pelo macho e teve que ser tratado. No entanto, colocaram a fêmea em um tanque, em condições impróprias. A barriga do animal ficava raspando na superfície de concreto. Ela passou cerca de 20 dias sem se alimentar e não fizeram nada para que ela voltasse a comer".
Ele ainda afirma que há dez anos a equipe da veterinária Cláudia Igayara está no zoológico. "Eles agem como se o zoológico fosse a chácara particular dele. A Secretaria do Meio Ambiente precisa tomar providências, mas parece ‘fechar os olhos para o que acontece", afirma.
Comissão da Câmara realiza investigação
Os vereadores que compõem a comissão de estudos do zoológico, instituída por votação na Câmara Municipal no último dia 23, realizaram uma visita ao parque para averiguar a situação do local e dos animais.
Os parlamentares apontam problemas de infraestrutura e segurança e questionam os motivos da morte de animais do zoológico. A última foi a da onça pintada macho, em 29 de outubro, ainda de causa desconhecida.
A presidente da comissão, vereadora Luiza Cordeiro, disse que teve conhecimento de informações compatíveis com as citadas pelo ex-funcionário e afirma, "a comissão dará espaço para que funcionários do zoológico falem sobre as questões". A vereadora comenta que a segurança no parque é "muito frágil" e menciona o desaparecimento de animais, como o que ocorreu com o casal de araras azuis.
40 mortes em cinco anos – Como já divulgado amplamente pela imprensa este ano, mais de cem animais já desapareceram do zoológico municipal nos últimos cinco anos. Neste período foram registradas pelo menos 40 mortes.
A reportagem do Guarulhos Hoje percorreu o zoológico na manhã de ontem, quando foi possível observar a ausência de funcionários espalhados pelo parque, quando a população percorria o todo o espaço, e a presença de apenas dois guardas civis municipais (GCM), que se posicionavam na porta de entrada.
Secretário de Meio Ambiente afirma confiar na gestão do parque
Sobre as acusações do ex-funcionário, o secretário municipal de Meio Ambiente, Alexandre Kise, por intermédio de nota enviada à Redação, disse que causa estranheza as denuncias serem feitas apenas agora. "Parece mais uma retaliação pelo fato da pessoa em questão ter sido afastada do serviço".
Na nota, Kise ainda afirma acreditar e confiar no trabalho da equipe do zoológico. "São profissionais sérios, compromissados com a missão de dar a melhor condição de vida aos animais", disse o secretário, que completa, "qualquer denúncia que seja feita será apurada e as medidas necessárias serão tomadas".
De acordo com informações enviadas por email ao Guarulhos Hoje, pela médica veterinária do zoológico, Cláudia Igayara, os procedimentos no local são realizados dentro dos padrões exigidos. "O Ibama acompanha o trabalho do zoo por intermédio de relatórios e vistorias e não há críticas", disse.
Ela afirma que os procedimentos são documentados e feitos com acompanhamento dos tratadores de animais, mesmo quando fora do horário de expediente. Sobre as mortes de animais a médica diz, "as circunstâncias e causa de morte de todos os animais citados estão documentadas em laudos técnicos que podem ser consultados por órgãos fiscalizadores. Além disso, a eutanásia de animais é realizada somente em situações extremas".
A veterinária garante que a equipe técnica tem bom relacionamento com a maioria dos funcionários e que os técnicos não têm poder de solicitar transferências de funcionários.
