Estadão

Ex-guerrilheiro, Petro enfrenta dificuldade para obter a paz total

Alcançar a paz completa na Colômbia, como promete o presidente Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro do M-19, passa diretamente por um acordo com a última guerrilha em ação na América Latina: o Exército de Libertação Nacional (ELN). Para avançar nos diálogos com o grupo, o governo tenta firmar um cessar-fogo bilateral com um grupo que mantém sua cúpula intacta, mas, ao mesmo tempo, possui estrutura com frentes militares independentes.

<b>Confiança</b>

Segundo analistas, apenas uma trégua bilateral trará a confiança necessária para avançar na negociação. "Avançar de maneira segura e efetiva em um diálogo com o ELN é o passo mais estratégico na busca pela paz total. Isso poderia arrastar o restante dos grupos à margem da lei. Com certeza, será a negociação mais complexa, mas com mais possibilidades de futuro", afirma o general da reserva Juan Carlos Buitrago Arias, autor do livro Os princípios não se negociam, sobre as máfias na Colômbia.

A guerrilha e o governo retomaram as negociações de paz em novembro e um cessar-fogo bilateral havia sido anunciado em dezembro, mas foi suspenso pelo governo na semana passada, após o ELN afirmar desconhecer tal acordo.

"Para muitos analistas, o não querer acordar um cessar-fogo é um indício por parte do ELN de que não há vontade real. Mas é preciso lembrar que uma parte das negociações de paz entre o governo de Juan Manuel Santos e as Farc ocorreu durante períodos de cessar-fogo e outra parte não", diz a analista política Silvana Amaya.

Em dezembro, o ELN havia anunciado uma trégua unilateral para as festas de fim de ano. Nesse contexto, Bogotá avaliou, segundo o ministro do Interior, Alfonso Prada, que seria possível ter um cessar-fogo bilateral e o decretou. Agora, Petro pede que o ELN volte a uma trégua e os dois lados possam, enfim, negociar o cessar-fogo durante as conversas de paz. Pablo Beltrán, o principal negociador da guerrilha, afirmou que o assunto poderia ser discutido "no próximo ciclo" de negociações.

Atualmente, um cessar-fogo bilateral está em vigor com outros grupos criminosos, com os quais o governo também pretende chegar a um acordo de paz: Segunda Marquetalia (dissidência das Farc), Autodefensas de la Sierra Nevada (paramilitar), Estado Mayor (outra dissidência das Farc) e Clan del Golfo (paramilitar).

A meta de Petro é considerada um desafio justamente pela complexidade de firmar acordos com grupos de diferentes características. "Levar adiante diferentes processos de paz com diversos grupos de forma simultânea aumenta a complexidade (da meta de paz total) e reduz a margem de manobra de Petro", afirma Amaya.

<b>Esquerda</b>

A chegada de um presidente de esquerda – o primeiro da história do país – é um dos principais motivos que levaram o ELN de volta à mesa de diálogo. O ELN é uma guerrilha guevarista que, à princípio, não almeja se tornar um grupo político, como as Farc, mas sempre pediu que ideias de esquerda tivessem um lugar de destaque na política da Colômbia, o que começa a acontecer.

O ELN, que pegou em armas em 1964, tem um comando central, mas frentes autônomas. Esse aspecto torna a negociação mais complexa. Com cerca de 2.500 combatentes e colaboradores, o ELN está presente em 20% dos municípios e em regiões fronteiriças com a Venezuela e o Equador.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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