Economia

Ex-prefeito de Unaí é condenado a 100 anos de prisão

O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica foi condenado a 100 anos de prisão pela acusação do Ministério Público Federal de ser um dos mandantes do assassinato de quatro servidores do Ministério do Trabalho, em janeiro de 2004. Antério, no entanto, poderá recorrer da sentença em liberdade.

A decisão foi anunciada na noite desta quinta-feira, 5, pelo presidente do Tribunal do Júri, Murilo Fernandes. As principais suspeitas contra o fazendeiro, que foi prefeito da cidade por dois mandatos (2005 a 2008 e 2009 a 2012), eram a presença de um Fiat Marea, que pertenceria à família de Mânica, nas proximidades de um posto de gasolina onde o grupo de pistoleiros contratados para os assassinatos se reuniu no dia anterior ao crime, e ligações telefônicas feitas pelo fazendeiro para o escritório regional do Ministério do Trabalho e Emprego, pouco depois da chacina, para ter informações sobre os fiscais e o motorista mortos.

O julgamento começou na terça-feira, 3. Foram ouvidas 16 testemunhas de acusação e seis de defesa. O júri era formado por seis mulheres e um homem.

O assassinato dos fiscais Nelson José da Silva, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e do motorista Ailton Pereira de Oliveira, todos funcionários do Ministério do Trabalho, ficou conhecido como a chacina de Unaí.As vítimas trabalhavam na auditoria de fazendas no município.

A condenação foi de 25 anos por assassinato, descontados 26 dias em que o acusado esteve preso ao longo do processo. As propriedades, inclusive as da família Mânica, eram suspeitas de cometerem irregularidades trabalhistas. Norberto Mânica, irmão de Antério e também acusado de ser mandante da chacina, foi condenado a 100 anos de prisão pelas quatro mortes em julgamento encerrado na sexta-feira, 30. No mesmo júri, o empresário cerealista José Alberto Castro, outro acusado de ser mandante das mortes, foi condenado a 96 anos de prisão. Os dois também em liberdade.

A procuradora Míriam Lima comemorou a decisão. “Embora a população e a imprensa tivessem duvidado desse resultado, eu nunca duvidei”, afirmou ela, após o resultado do julgamento.

O advogado assistente de acusação, Antônio Francisco Patente, também afirmou que nunca duvidou da condenação. “Nunca achei que houvesse provas frágeis para que esse resultado fosse alcançado”, disse. Sobre o fato de Mânica recorrer em liberdade, o advogado afirmou se tratar de uma possibilidade prevista na lei.

Já o advogado da defesa, Marcelo Leonardo, disse que vai recorrer da decisão. “Um dos jurados teve dúvidas em relação ao enunciado de uma das perguntas apresentadas pela presidência do júri no momento da decisão dos jurados, o que torna nulo o julgamento”, argumentou.

Os pistoleiros Erinaldo Vasconcelos Silva, Rogério Allan Rocha Rios e o motorista Willian Gomes de Miranda, contratados para os assassinatos, já foram condenados e cumprem penas que variam de 56 a 94 anos de prisão. O valor pago para a chacina foi de R$ 39 mil, conforme depoimento de Erinaldo, que foi testemunha de acusação tanto no julgamento de Antério como de Norberto Mânica e José Alberto.

Para o crime, os três pararam a caminhonete dos funcionários do Ministério do Trabalho em uma estrada vicinal de Unaí e atiraram nos quatro. Francisco Pinheiro, acusado de ser o agenciador dos pistoleiros, morreu na prisão de AVC em 2013, antes de ser julgado.
Segundo o presidente do Tribunal do Júri, na leitura da sentença, Antério “merece censura pela condição social e política na região”.

A grande expectativa em relação ao julgamento tanto de Norberto como de Antério era em relação ao depoimento, como testemunha arrolada pelo Ministério Público Federal, do também empresário cerealista Hugo Pimenta, outro acusado de ser mandante da chacina, que fez delação premiada no processo. O julgamento do empresário está marcado para o próximo dia 10. Hugo, no entanto, afirmou acreditar que o mentor dos assassinatos foi Norberto Mânica, e não deu depoimento semelhante em relação a Antério.

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