Campeão da Copa América de 2007, bicampeão brasileiro pelo São Paulo, entre outros feitos. Hoje, Alex Silva, o Pirulito, tenta retomar a carreira, aos 29 anos de idade. Ele foi contratado pelo São Bernardo como o grande presente para a torcida do clube que celebra 10 anos de existência no dia 20 de dezembro e disputará a Série A1 paulista no ano que vem. Em entrevista exclusiva, o zagueiro abre o jogo e admite que a bebida quase fez sua carreira chegar ao fim. Ele até treinou bêbado algumas vezes no São Paulo, mas se converteu e hoje é um homem diferente.
Agência Estado – Você sumiu e foi parar no São Bernardo. O que houve?
Alex Silva – Meu empresário é amigo de um dirigente do São Bernardo e fizemos uma reunião onde eu vim conhecer o clube. Eles olharam nos meus olhos e perceberam o quanto eu quero me recuperar. O São Bernardo me ajuda e eu ajudo eles.
AE – Porque sua carreira não decolou como imaginávamos?
Alex Silva – O que me prejudicou foram as lesões no joelho. Foram quatro cirurgias. Em 2009, eu estava na seleção, e bem, até que rompi os ligamentos, o Thiago Silva ganhou espaço e fiquei fora da Copa. Tive problema também no Flamengo e no Cruzeiro. No Flamengo, fui afastado por ter me negado a jogar sem receber salário e as portas começaram a se fechar. No Boa Esporte, joguei quatro partidas, recebi proposta do Sport e Atlético Goianiense, mas resolvi ficar e veio uma nova lesão.
AE – Foi um erro ter ido para o Flamengo?
Alex Silva – O Flamengo é muito grande para falar que foi um erro. Tive momentos felizes por lá. O meu erro talvez tenha ocorrido por ter sido mal assessorado por advogados que, em vez de me deixar trabalhando enquanto resolviam a situação, mandaram eu me negar a jogar. Talvez se eu tivesse tido mais paciência poderia estar lá até hoje.
AE – Também teve alguns problemas de disciplina…
Alex Silva – No São Paulo, foram três anos que eu saia para o samba, mas ninguém falava porque eu jogava bem. Depois que saí é que começou esse papo. Engraçado que eu não servia, mas quando o (técnico) Muricy (Ramalho) tentou me levar para o Santos, o São Paulo não deixou. Talvez tenha faltado saber lidar comigo. Eu era um jovem de 22 anos, que morava sozinho em São Paulo e tinha tudo fácil na mão. Existem vários casos de jogadores que também passaram por isso. Romarinho e o Denilson, volante do São Paulo, também viveram essa situação. E o Tardelli? Quem viu o Tardelli no São Paulo poderia imaginar que ele se tornaria o atacante da seleção brasileira? Se ele mudou, por que eu não posso mudar? E se perguntar para o Muricy e (técnico Vanderlei) Luxemburgo, eles vão falar que não dei trabalho. Porque eu aprontava, mas correspondia.
AE – Que tipo de erros você cometeu na juventude?
Alex Silva – Irresponsabilidades de moleque. Muitas amizades erradas e tive muita mulher na minha vida. Gostava de ir ao samba mesmo, tomava minha cervejinha, mas dentro de campo eu dava conta. A verdade é que noitada não combina com profissionalismo. Uma hora você não aguenta mais.
AE – Você chegou a ir para algum treino “um pouco mais alegre”?
Alex Silva – Algumas vezes (risos). Às vezes eu chegava “acompanhado” mesmo. Eu gostava de tomar meu “Gatorade”. Teve uma vez que cheguei direto da balada e fui para o treino, cochilei umas duas horas e acordei achando que estava bem. Fui para o campo e tinha uma roda de bobinho. Saí correndo e fiquei dando carrinho no vento. O Leandro e o Aloisio Chulapa me pegaram pelo braço e pela perna e me jogaram na frente do banco de reservas, na frente do Muricy, que virou e me disse: “Levanta, vai para a fisioterapia e fica lá. Só que é o seguinte: se amanhã você não for para o ataque umas cinco vezes e voltar, você nunca mais joga comigo”. Falei que poderia confiar que eu daria conta. Fui para a fisioterapia e dormi o dia inteiro, ainda com a boca amarga. Só acordava para comer. No dia seguinte, joguei muito. Moleque, né. Era fácil correr o campo inteiro.
AE – E o Muricy falou o quê?
Alex Silva – Terminou o jogo, o Muricy virou e falou: É moleque, você é f… Mas eu estava arrebentado, quase não conseguia andar. Aproveitei demais e abusei da minha juventude. Com 22 anos, ganhava bem, jogava na seleção, onde eu ia estendiam um tapete vermelho para eu pisar. E eu era lindo. Não vou citar nomes, mas muitas artistas passaram por esse corpinho magrinho.
AE – E drogas?
Alex Silva – Nunca usei. Meu vício apenas foi cerveja, até porque tenho um pai e uma mãe maravilhosos, que sempre me mostraram o que a droga causava.
AE – No início de outubro, você foi pego em uma blitz da Lei Seca alcoolizado e precisou pagar fiança para não ser preso. Se arrepende do que fez?
Alex Silva – A blitz acontece para todo o cidadão e qualquer um pode ser vítima. O cara que estava para ser presidente do Brasil também já foi parado. O Mano Menezes, como técnico da seleção, também viveu essa situação. É algo natural, mas para mim foi muito importante ter passado por tudo isso.
AE – Serviu para você “acordar”?
Alex Silva – Sim e naquele momento eu percebi que tinha que mudar. Desde aquele dia, nunca mais coloquei uma gota de álcool na boca. No dia 9 de novembro, me converti e me tornei cristão. Se eu não mudasse, tudo que fiz no futebol não valeria de nada e eu acabaria como muitos que a gente vê por aí, ferrado, tendo que fazer jogo beneficente para sobreviver.
AE – Então a blitz acabou sendo um bom negócio?
Alex Silva – Talvez se eu não tivesse passado naquela blitz poderia ter sofrido um acidente porque eu havia bebido e estava em uma estrada perigosa. Mas paguei a fiança e reconstruí a minha vida.
AE – Os amigos dos tempos em que você estava no topo continuam?
Alex Silva – Sumiram quase todos. Amigos, mulherada. Ficaram só os verdadeiros e alguns chupins, que tentam se aproveitar do seu nome até o fim. Agora que fiz minha escolha por ser cristão, eles sumiram de vez. Para que serve agora ser amigo do Alex Silva? Eu não vou mais pagar cerveja para ninguém. No máximo, um guaraná.
AE – Alguém do futebol te ajudou?
Alex Silva – Sim. Aloisio Chulapa, Ricardo Oliveira, Denilson, Lenilson, Tinga, Sandro Silva, enfim, teve alguns que sempre me deram muita força e também puxaram a minha orelha. São pessoas que eu agradeço a Deus por continuarem na minha vida.
AE – E sua relação com o ex-presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio? Você saiu brigado com ele?
Alex Silva – Não tenho nada contra ele. Eu saí do São Paulo porque cometi algumas indisciplinas (faltas nos treinos) e meu contrato estava acabando. O meu problema com o Juvenal é que ele disse na imprensa que inventei uma proposta do Sporting, de Portugal. Resolvi responder pela imprensa também. Mas na mesma hora, nós conversamos e acertamos tudo.
AE – O que esperar do Alex Silva para 2015?
Alex Silva – Muita gente vai estranhar esse o novo Alex Silva. Sou um cara mais disciplinado, que briga dentro de campo pela vitória e que vai ajudar a colocar o São Bernardo lá em cima. E voltarei para o lugar de onde eu não devia ter saído. Quem sabe com 31 ou 32 anos eu possa estar de volta à seleção. Agradeço ao São Bernardo por ter me aberto as portas. Agora, sem bebidas e longe dos problemas, tenho certeza que farei um grande Paulista