Quando as negociações e cálculos políticos para a composição da chapa do hoje governador do Acre, Gladson Cameli (PP), tiveram início em 2018, um nome surgiu com força para concorrer como vice: o do policial militar aposentado Wherles Rocha, o Major Rocha (MDB).
Os dois venceram no primeiro turno e quebraram uma hegemonia de duas décadas de governos petistas no Estado. O ex-prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre (PT), terminou em segundo lugar, com 34,5% dos votos.
Ex-deputado federal, Major Rocha foi escolhido como vice justamente por ter sido considerado um ativo importante na tentativa de descolar a imagem de Gladson Cameli do PT. O governador fez parte da base das gestões petistas e rompeu com o partido na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Cameli foi reeleito em 2022, novamente no primeiro turno. O policial militar, no entanto, foi substituído na chapa. A mudança não foi uma surpresa para quem acompanha a política no Acre, já que governador e vice se envolveram em uma briga pública ao longo do primeiro mandato.
Ao <b>Estadão</b>, o ex-vice-governador afirma que rompeu com Cameli após denunciar suspeitas de corrupção na administração estadual. De acordo com o policial, os dois nunca foram muito próximos ."Depois eu entendi o por quê da distância, eu era uma pedra no sapato dele", acredita.
Major Rocha alega que, em um primeiro momento, compartilhou suas desconfianças com o governador. "Logo nos primeiros meses do governo surgiram os primeiros indícios de corrupção e eu acreditava que ele não estava envolvido nesse esquema", afirma ao blog. "Eu fiquei esperando alguma atitude dele e ele fugia do assunto."
Um episódio crítico na relação dos dois, relembra Rocha, foi em novembro de 2021, quando ele estava como governador em exercício e exonerou então procurador-geral do Estado, João Paulo Setti, suspeito de envolvimento no desvio de milhões em precatórios. O policial afirma que já havia sugerido a exoneração, mas que Gladson resistia em tirar o procurador do cargo. Assim que retornou ao Estado, após participar da COP26, o governador desfez decisão tomada por seu vice e reconduziu o procurador ao cargo. No mês seguinte, Setti voltou a ser exonerado, desta vez a pedido.
O governador do Acre é investigado por possível envolvimento em um amplo esquema de desvios que, segundo a investigação da Polícia Federal (PF), teria começado em setores sensíveis da administração estadual, como Saúde e Educação, e contaminado áreas estratégicas, como Infraestrutura, que tradicionalmente é apropriada para corrupção por causa das obras de alto custo. Ele sempre negou as acusações e afirma que investigação caminha há dois anos sem conclusão.
Gladson é sobrinho e herdeiro político de Orleir Cameli, que governou o Acre nos anos 90 e também foi alvo de investigações por corrupção. Além do Acre, a família tem influência no Amazonas. A PF começou a investigar se o suposto esquema tem alcance interestadual.
Um ponto-chave descrito no inquérito é o papel de familiares do governador na operacionalização dos desvios. O pai, Eládio Cameli, e o irmão, Gledson, também são investigados. A suspeita é a de que eles tenham usado empresas para lavar o dinheiro supostamente desviado. "Ele (Gladson) tem uma dedicação muito grande à família", afirma o ex-vice-governador.
<b>COM A PALAVRA, O GOVERNADOR DO ACRE</b>
"O governador Gladson Cameli não compactua com corrupção e nenhum outro comportamento ilegal. Sempre orientou e determinou que todas as denúncias de irregularidades contra ele e o governo fossem apuradas com todo o rigor. Desde o primeiro mandato, tem uma relação republicana e de respeito com os órgãos de fiscalização, criou a delegacia de Combate à Corrupção e reforçou as equipes de controle interno em todas as secretarias e autarquias do estado. Essas ações demonstram o compromisso com a transparência, o respeito com a coisa pública e o estado democrático de direito. Por fim, o governador Gladson Cameli reafirma a sua confiança na justiça."