Cidades

EXCLUSIVO: Com problemas de locomoção, homem vive dentro de van na Vila Galvão

Prefeitura e entidade tentam convencê-lo sobre a necessidade de acolhimento

Sob condições extremamente precárias, um homem que tem problemas de locomoção vive dentro de uma van abandonada, com adesivos de ambulância, estacionada na Vila Galvão. A situação preocupou moradores e comerciantes da avenida Treze de Maio.

Guanair – o sobrenome não foi identificado – tem 47 anos e nenhum documento que comprove sua existência. O GuarulhosWeb ouviu quatro histórias diferentes sobre o motivo que culminou em seu atual paradeiro, nenhuma delas confirmada.

Há relatos de que ele teria se separado da esposa e, desiludido, foi morar dentro do veículo. Outra versão garante que Guanair perdeu o pai e foi abandonado pela madrasta. Existe também uma história de que um sobrinho teria vendido sua residência e fugido com o dinheiro do negócio, deixando Guanair sem um lar. Por fim, um outro relato diz que o desemprego e a doença o fizeram passar por diversas unidades de saúde, saindo e retornando para a van entre as internações em hospitais.

O fato é que o homem utilizava uma sonda, arrancada por ele próprio, e que um problema na coluna o impede de caminhar. Sem conseguir se locomover, ele vive nos fundos da van e se alimenta de doações de comerciantes que trabalham próximo ao veículo. A situação é tão grave que ele estaria fazendo necessidades na própria roupa, tornando a aproximação difícil pelo mau cheiro.

“Ele precisa de uma cirurgia na coluna, mas tem medo de ir para o hospital. Ele chegou a pedir óleo para passar nas feridas do seu corpo. Além disso, ele não pode ingerir sólidos e se alimenta de café, caldos e sopas doados por nós”, conta Maria Gonçalves, atendente de uma loja próxima ao local de estacionamento do veículo habitado por Guanair.

“Não sei como ele foi parar na van e nem como a van veio parar aqui. A gente pensou que estava abandonada e resolveu olhar. Foi quando o encontramos. É nítido que há um quadro de anemia, mas a gente tenta cuidar dele e oferecer comida”, completa Maria.

Acolhimento pode acontecer via judicial

Procurada pela reportagem, a Prefeitura informou que já o abordou diversas vezes. Em todas, ele negou acolhimento sob alegação de que se deixasse o veículo vazio ele poderia perdê-lo.

Contudo, como a situação envolve a saúde de um ser humano, medidas judiciais podem ser adotadas mesmo contra a vontade de Guanair. A Secretaria de Assistência Social do município informou que irá encaminhar o caso ao Conselho Municipal de Direito, órgão autônomo.

O Núcleo Batuíra, organização sem fins lucrativos que se dedica a atender pessoas em condição de vulnerabilidade social, ficou sabendo do caso de Guanair e enviou uma equipe para verificar de perto a história. A instituição confirma a versão da Prefeitura de que ele nega o acolhimento e afirma que está tentando ‘construir o relacionamento’ para ‘ganhar a confiança’ do homem.

“A nossa ideia é fazer ele exercer o direito dele à saúde e a um local com mais recursos. Hoje ele está em uma situação precária. Ele tem direito a um documento, a um acolhimento e a uma cama”, explica Cássia Tavares, coordenadora de serviço especializado em abordagem social do Batuíra.

A organização fez a primeira visita no dia 4 de fevereiro e retornou no dia seguinte. Desde então tem frequentemente retomado o contato com Guanair tentando convencê-lo a aceitar a ajuda e o auxiliando da maneira que a situação permite.

Denuncie, informe as autoridades

Em casos de pessoas em situação de vulnerabilidade, o cidadão pode denunciar por meio do Disk 100, canal do governo federal. A Prefeitura também disponibiliza a Ouvidoria do Município, no telefone 2475-7300.

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