Essa numeralha apenas confirma alguns contrastes no cenário nacional para o futuro. Vejamos: o brasileiro que nasceu este ano vai viver um pouquinho a mais que o amiguinho que veio ao mundo no ano passado, segundo os dados do IBGE. E a tendência é de que em algum tempo essas pessoas ganhem mais velinhas ainda no bolo de aniversário, um acréscimo motivado sobretudo pelos avanços da Medicina e pela melhoria da situação social e econômica do País.
Para quem não acredita no impacto dessas transformações, basta olhar para o passado. Há 37 anos, a expectativa de vida um brasileiro era de apenas 54,6 anos de idade – 17 anos e oito meses a menos do que a taxa média atual. Esse aumento foi conseqüência de maior acesso a alimentos, água potável, redes de esgoto, campanhas de vacinação e remédios mais potentes.
No futuro, sabe-se lá quanto tempo uma pessoa poderá viver. Pesquisadores afirmam que em 2050 o Brasil terá cerca de 14 milhões de pessoas com mais de 80 anos, contra os 2 milhões de 2007. Haja dinheiro público e privado para pagar aposentadorias e custear despesas médicas.
O impacto também deve se estender aos bolsos dos contribuintes. Para quem não sabe, vale um aviso: o valor da aposentadoria é calculado de acordo com a expectativa de vida da população. Se ela aumenta, com certeza a pensão paga pelo Poder Público diminui. Dessa forma, vale investir na aposentadoria privada ou, se você for disciplinado, começar a poupar dinheiro por conta própria.
Outro dado importante, e que merece atenção das autoridades, é a disparidade entre o tempo de vida dos brasileiros, dependendo da região onde se vive. É inaceitável que um brasiliense tenha em média 8,8 anos a mais que um alagoano. Essa distância tem que ser reduzida drasticamente, junto com um aumento da expectativa de vida do cidadão da Capital Federal.
Da mesma forma, o Brasil também precisa melhorar sua posição mundial nesse ranking. Segundo um relatório da CIA (agência de inteligência dos EUA), nosso país ocupa a 114ª colocação em um ranking da expectativa de vida, atrás de vizinhos como Colômbia e Venezuela. Na liderança, estão Andorra (83,5 anos), Macau (82,3) e Japão (82 anos). A disparidade aqui é ainda maior quando se comparam as taxas de países industrializados com nações pobres. Em Angola, a expectativa é de apenas 37,6 anos, cinco a mais que a lanterna Suazilândia, com 32,2 anos.
Esses dados são pequenas amostras das desigualdades econômicas e sociais no mundo moderno. Em pleno século XXI, não se pode permitir que pessoas de um país vivam até 50 anos mais que em outras localidades. Assim como é inadmissível uma diferença de quase nove anos entre os cidadãos de um mesmo país. Esse tipo de desequilíbrio pode gerar conflitos nas gerações futuras. E até lá se pode não encontrar explicação convincente para explicar o inexplicável a quem quiser compreender o que a cada dia parece mais incompreensível.
* Milton Dallari é consultor empresarial, engenheiro, advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp. O e-mail para contato é o [email protected].