A expectativa de mudanças na troca de comando da Petrobras impulsionou as ações da estatal, que encerraram ontem com a maior alta dos últimos 16 anos. A saída da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, que se reuniu na terça-feira, 3, com a presidente Dilma Rousseff, era dada como certa pelo mercado, ofuscando as notícias de rebaixamento do rating (classificação da qualidade de crédito de uma empresa) da estatal, anunciada pela agência de classificação Fitch.
As ações preferenciais da Petrobras subiram 15,47%, a R$ 10, atingindo a maior alta desde 15 de janeiro de 1999, e as ordinárias tiveram alta de 14,23%, a R$ 9,79.
Mesmo sem a clareza sobre quem ocupará a presidência da estatal, o mercado está apostando que a mudança pode representar um “choque de credibilidade” para a companhia, e aguarda o anúncio de um executivo voltado para restaurar a confiança na empresa. Os nomes mais cotados para assumir o comando da estatal são do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o ex-presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim, que trabalhou com o empresário Eike Batista, na OGX.
Analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, destacaram que a imagem de Graça Foster está desgastada pelos escândalos de corrupção que ocorreram sob sua gestão, e que a saída da executiva é esperada há algum tempo. “Não se espera a indicação de um executivo com perfil político, mas com o perfil mais empresarial, menos ligado a partidos e com um nome respeitado no mercado”, afirmou o analista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira.
De acordo com Pereira, a decisão recente do governo de repassar o retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para o preço final do combustível sinalizou uma mudança na política de preços da empresa, e agora os investidores esperam uma mudança em relação ao perfil de sua gestão. A entrada de Joaquim Levy para o governo também deixou o mercado mais “esperançoso” sobre uma indicação não política e voltada para a recuperação da credibilidade da Petrobras.
O sócio e gestor da Quantitas Asset Management, Wagner Salaverry, afirmou que os investidores que puxaram a alta da Petrobras ontem certamente estão esperando uma indicação semelhante ao que ocorreu no Ministério da Fazenda.
Balanço
A divulgação na semana passada do balanço do terceiro trimestre da estatal, não auditado e sem a medição e baixas contábeis de R$ 88,6 bilhões, referentes aos casos de corrupção envolvendo a estatal, aumentou o desgate na relação entre a presidente e Graça Foster. Mesmo assim, os analistas não acreditam que o comando da empresa será substituído por alguém que atenda todas as demandas da presidente.
A equipe da Lerosa Investimentos avalia que “dificilmente” será escolhido para o cargo um profissional que acate as interferências de Dilma. “Para dar um choque de credibilidade, teria que ser pessoas de mercado e sem interferências internas ou políticas”, afirmou.
O analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo, destacou que as escolhas para a liderança da estatal têm sido mais políticas do que técnicas nos últimos anos, e não acredita que agora será diferente. No entanto, ele destaca que o momento atual é mais favorável. “O mercado vê com bons olhos o fato de que a nova pessoa teria total consciência do que está acontecendo dentro da companhia e teria mais vontade de efetuar uma nova governança”, afirmou.
Ele acrescentou que manter Graça na presidência seria inviável, independente de ela ter responsabilidade ou não sobre os casos de corrupção. “Para a empresa voltar a ter credibilidade junto ao mercado, precisa mudar o alto escalão e não só a diretoria”, disse. “É como em um time, às vezes é preciso demitir o técnico e não os 11 jogadores.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.