Projeto multimídia de intervenções urbanas, o AR-te tem patrocínio da Air Liquide e acontece pela primeira vez em São Paulo, de 16 de outubro a 20 de novembro, com o objetivo de contribuir para a reflexão sobre a poluição do ar e questões ligadas à crise climática global
O público poderá visitar as obras de cinco artistas brasileiros criadas exclusivamente para a mostra e instaladas nos parques Água Branca, Burle Marx, Bruno Covas, além de Casa das Rosas e Escola Estadual Dom Paulo Loureiro, em Guarulhos.
A exposição contará com um lançamento aberto ao público, no domingo, 16 de outubro, às 11h, no jardim do museu Casa das Rosas, incluindo performance do curador e artista Thiago Cóstackz e exibição de vídeo com depoimentos dos artistas e imagens das obras instaladas em seus respectivos locais
A contaminação do ar e questões ligadas à crise climática global são o fio condutor do projeto AR-te, que leva para diferentes locais da cidade intervenções urbanas inéditas criadas pelos artistas visuais Alex Senna, Flávia Junqueira, Priscila Barbosa e Pedro Varela, além de Thiago Cóstackz, que também assina a curadoria da mostra. Esse grupo formado por mulheres, homens, LGBTQIA+, artistas de periferia e indígena, sensíveis à questão ambiental, possui trabalhos reconhecidos no Brasil e no exterior, e o público poderá conferir suas novas obras a partir de 16 de outubro até 20 de novembro.
Com diferentes linguagens visuais e pensado de forma sustentável, o conjunto expositivo do AR-te busca ao mesmo tempo seduzir pela concepção plástica e provocar reflexões sobre a relação das cidades com o ar e as muitas questões ligadas à poluição e contaminação atmosférica. Somente na cidade de São Paulo, cerca de 11 mil mortes por ano poderiam ser evitadas com a redução da poluição e o aumento de áreas verdes, o que além de salvar vidas, faria a cidade desaquecer cerca de 1c°. (*)
“As obras questionam os observadores sobre nossas responsabilidades com a preservação, mas não fazem apenas alertas ambientais, elas também evocam facetas filosóficas e poéticas que envolvem o ar. Afinal, temos a chance de desenhar um novo caminho para a nossa civilização, mas parece que ainda não estamos nos esforçando o suficiente”, afirma o curador do AR-te, Thiago Cóstackz, autor de expedições artísticas e de instalações em ambientes naturais ameaçados, da Amazônia à Groenlândia.
Durante a temporada, os artistas ministrarão oficinas gratuitas, e ao final da mostra as obras serão doadas a instituições ligadas à preservação do ar e valorização de comunidades tracionais como a Associação Rural Indígena de Rio dos Índios, no Vale do Ceará-Mirim/RN. O AR-te foi idealizado pela Mina Cultural – que assina a gestão do projeto – e pelo artista multimídia Thiago Cóstackz. O projeto é patrocinado pela Air Liquide Brasil, por meio do ProAC – ICMS.
Sobre as intervenções do AR-te
O artista Thiago Cóstackz leva ao Parque Burle Marx a obra “Natureza Interrompida” (dimensões: 160cm, por 120cm x 90cm; técnica: Polímeros variados reciclados, madeira e metal certificados). Ele apresenta uma espécie de mesa de corte de madeira em que uma figura metamorfoseada é representada diante de uma “serra elétrica”, como se estivéssemos vendo um crime prestes a acontecer. Uma metáfora da natureza confrontada com uma das forças mais transformadoras e destruidoras do planeta: a espécie humana. A intervenção foi feita de forma espelhada para refletir não só o ambiente preservado do parque mas também o observador, outra espécie em risco.
“Uma Combustão de muitos corpos” (dimensões: 3m x 2m x 60cm; técnica: pintura acrílica sobre madeira certificada) é a obra de Priscila Barbosa instalada no Parque da Água Branca. Nessa instalação feita no formato de uma caixa de fósforos gigante, Priscila ressignifica esse objeto associado à cozinha e a sua dualidade, como algo que pode ser utilizado como ferramenta de insubordinação e confronto, mas que também serve ao preparo dos alimentos, ou até para iniciar o incêndio em uma floresta. No centro da imagem está uma mulher indígena, inspirada nas Potiguaras Ibirapi do Vale do Ceará-Mirim (RN), que tem entre os cabelos a ave “aratinga jandaia”, já extinta naquela região. No verso da obra a mesma ave parece renascer e se projeta sobre o losango da bandeira brasileira.
No Parque Linear Bruno Covas, o público poderá conferir a instalação “Nuvem”, de Pedro Varella (dimensões: 5m x 2m; técnica: pintura acrílica sobre madeira certificada). “Nuvem” tenta quebrar com a ideia de paisagem com uma única perspectiva, e traz para o espectador uma paisagem fragmentada, com muitos tons de azul que assume formas, histórias diversas e instiga a pensar na preservação, principalmente, em relação aos mares e ao ar.
“Amazônia, Lago Janauari, Árvore Samaúma” é o trabalho de Flávia Junqueira, em exposição na Casa das Rosas (dimensões: 2,90 cm x 3m; técnica: impressão em lona fixada em estrutura de madeira). A artista usa a fotografia encenada em espaços arquitetônicos ou abertos para criar atmosferas de fantasia. A própria teatralidade existente nos espaços vira elementos pictóricos que que ajudam a compor sua narrativa. Nessa intervenção, Flávia contrapõe o natural e o urbano e exibe a foto da árvore amazônica Samaúma, rodeada por uma instalação de balões coloridos. A árvore conhecida como “mãe da floresta”, pode chegar a 100m e ejeta na atmosfera cerca de 2.000 litros de água por dia, tendo papel protagonista em grande parte das chuvas nas regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil.
Também no jardim da Casa das Rosas, Thiago Cóstackz expõe “Air Head”, um balão com forma de cabeça de pássaro que flutua evocando em seu interior um ar contaminado e mortal para qualquer ser vivo.
Alex Senna, um dos maiores expoentes do movimento de intervenções urbanas, com obras espalhadas por 25 países estampa a sua obra “Neblina” (dimensões: 9m x 3m, técnica: grafite) nos muros da Escola Estadual Dom Paulo Rolim Loureiro, em Guarulhos, na região metropolitana. “Neblina” é um retrato do nosso tempo, na qual nuvens escuras pairam sobre a civilização, trazendo para os dias de hoje o que era visto como um futuro distante, apocalíptico e irrespirável, dominado pelo plástico e contaminado pelos agentes químicos provenientes das indústrias e do descaso com o meio ambiente. O uso elegante das sombras e do preto e branco guiam o observador por um mundo cheio de simbolismos e retratos emocionais, que visam conscientizar sobre um perigo que já habita nossa rotina: o envenenamento do ar e seus desdobramentos terríveis junto a toda forma de vida na Terra.