A princípio, a proposta do Itaú Cultural era realizar uma exposição de design gráfico brasileiro contemporâneo, mas Cidade Gráfica, que será inaugurada nesta quaarta-feira, 19, para convidados e quinta, 20, para o público na instituição, ganhou uma reflexão mais condensada que panorâmica ao colocar as metrópoles brasileiras como tema. Com a curadoria dos designers Elaine Ramos, Celso Longo e Daniel Trench, 39 trabalhos selecionados para a mostra mais indagam do que apresentam soluções para questões urbanas. A linguagem gráfica é o elo das obras reunidas, todas elas exemplares de criações ou documentações que tratam de localidades diversas, como São Paulo, Belo Horizonte, Rio e Recife.
“A fronteira do que é ou deixa de ser design foi posta em segundo plano, abrindo passagem para todo tipo de contaminação”, explicam os curadores no texto que abre a exposição, formada por trabalhos assinados por designers, fotógrafos, artistas plásticos, coletivos e pesquisadores acadêmicos. Jogar luz a “estratégias” ou “tirar o design gráfico de sua prestação de serviço”, como afirma Eliane Ramos, é um dos pontos latentes da mostra, que ocupa dois andares do Itaú Cultural.
Na verdade, apenas o vídeo Remoções Forçadas é o registro de uma peça executada em 2013 no Rio de Janeiro pelo Estúdio Radiográfico, a pedido de um “cliente”, a Anistia Internacional. As caixas de papelão retroiluminadas de Ricardo Portilho, criadas para o evento Noite Branca, que ocorreu no parque municipal de Belo Horizonte em 2012, também são exemplo de trabalho com propósito prático, mas como contam os curadores, nenhuma outra obra de Cidade Gráfica é fruto de uma demanda específica, como a de um órgão público, por exemplo. A maioria das obras da exposição nasce mais da instigação própria dos criadores, o que é um dado interessante. “Em muitos casos, o coração do trabalho é uma pergunta”, diz Trench.
As indagações aparecem explicitamente, como aponta Celso Longo, em Qual Ônibus Passa Aqui?, intervenção com cartazes realizada entre 2000 e 2013 por Marcelo Zocchio e Mariana Bernd em São Paulo, e na ação do coletivo Frente 3 de Fevereiro, que levou para arquibancadas de jogos de futebol grandes bandeiras com dizeres como “Onde Estão os Negros?”.
A publicidade também é um dos temas de destaque da mostra. Em núcleo abrigado no 1.º andar, as reverberações da Lei Cidade Limpa da metrópole paulista aparecem em duas obras pontuais, na projeção de imagens feitas entre 2001 e 2007 pelo fotógrafo Hélvio Romero, do Estado, uma documentação de outdoors e grandes painéis publicitários que já não existem mais na cidade, e nas fotografias de Lucia Mindlin Loeb que registram dois tempos, 2004 e 2014, nas laterais da Av. Celso Garcia. O design de raiz popular é outra presença na exposição, como na estampa de Josivan Rodrigues baseada nos cobogós do Recife. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.