Variedades

Exposição de fotografia revela a magia da noite na América Latina

A noite pode ser escura, trazer pesadelos, mas também pode trazer festas e sonhos. Para explorar as diversas visões sobre a noite na América Latina, o Itaú Cultural acaba de abrir uma nova exposição fotográfica com trabalhos de 12 artistas de diversos países.

Intitulada Ainda Há Noite/Nos Queda la Noche, a mostra conta com mais de 300 fotografias feitas em 10 projetos. Sete deles são inéditos, comissionados pelo próprio Itaú Cultural.

Com curadoria de Claudi Carreras e Iatã Cannabrava, a exposição está vinculada ao 5º Fórum Latino-americano de Fotografia, que terminou no domingo, também na sede da instituição, na Avenida Paulista.

Dentre os sete projetos inéditos, dois são brasileiros. A fotógrafa Luisa Dörr apresenta a série Basal (2019), em que mostra trabalhadores de vários setores, mantendo a cidade de São Paulo em funcionamento à noite. Já o outro é uma parceria do brasileiro Bruno Morais com a espanhola Cristina de Middel. Os dois fazem no projeto Boa Noite, Povo (2019) uma seleção de imagens de animais noturnos para pensar o contexto sociocultural contemporâneo.

Os outros projetos apresentados são Píxeles (2019), do argentino Alejandro Chaskielberg, que apresenta pessoas iluminadas por seus smartphones; Historia Natural del Silencio (2019), do colombiano Jorge Panchoaga, que surge a partir de histórias de pessoas que cresceram cercadas pelo narcotráfico; Insidia (2019), do guatemalteca Juan Brenner, com registros da Cidade da Guatemala; Luciérnaga (2019), do mexicano Yael Martínez, é, segundo ele, sobre a resiliência dos que foram tocados pela violência; e Moon Shadows (2019), do coletivo Archive of Modern Conflict, traz imagens que transitam entre as dimensões do consciente e do inconsciente.

De acordo com o curador catalão Claudi Carreras, os projetos inéditos receberam uma orientação quando o tema foi apresentado. “Conversamos com os artistas. Pedimos para que imaginassem o momento em que você entra em casa, à noite, e fica sozinho, sem barulho. Você faz um resumo do dia”, explica.

“Nesse minuto, a gente consegue frear e pensar. Você tem a consciência do dia, mas, ao mesmo tempo, começam a entrar os sonhos. Esse momento se chama vigília, você ainda tem muita lucidez, mas perde a noção da realidade.”

Os outros três projetos que já existiam, segundo Carreras, foram escolhidos por refletir problemas atuais da América Latina. “O projeto dos chilenos Alejandro e Cristóbal Olivares é importante por mostrar a luta de jovens pela educação, o que está acontecendo em toda a América Latina”, reflete. “O da peruana Gihan Tubbeh fala dos universos masculinos e femininos numa realidade poética”, continua. “O projeto do uruguaio Ignacio Iturrioz fala de um prédio construído há quase cem anos para ser democrático, o que não foi conseguido.

Isso tem muito a ver com o que está acontecendo no mundo”, reforça o curador.
Se a fotografia é uma imagem do real, na exposição os olhares são poéticos, de acordo com Carreras. “A fotografia e a realidade caminham juntas, mas não são a mesma coisa. Cada autor cria seu próprio universo e mostra a sua realidade.”

Os artistas escolhidos não são exatamente jovens, mas também não são nomes altamente conhecidos. “É uma aposta para colocar em discussão o que está acontecendo. É complicado trazer nomes grandes, já consolidados, porque você vai mostrar uma coisa que as pessoas já viram.”

Há 12 anos, Claudi Carreras participa da organização do Fórum Latino-americano de Fotografia em São Paulo. Para ele, o mais importante de ter uma exposição atrelada a uma série de debates é poder expandir a discussão. “Queremos refletir sobre o que está acontecendo na fotografia, para onde ela vai seguir. Tentar buscar um novo olhar. A exposição serve como um termômetro.”

AINDA HÁ NOITE/NOS QUEDA LA NOCHE
Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, 2168-1777. 3ª a 6ª, 9h/20h; sáb., dom. e fer., 11h/20h. Até 11/8

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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