Variedades

Exposição em SP reúne o melhor das trilhas

O título da exposição traz um ponto de interrogação curioso, Música & Cinema: O Casamento do Século?, mas seu curador, o crítico, diretor e professor francês N.T. Binh (Binh Nguyeb Trong), editor da conceituada revista de cinema Positif, tem uma explicação: “Considero que um casamento ideal também possa terminar em separação litigiosa, como foi a do diretor Alfred Hitchcock e seu compositor predileto, Bernard Herrmann”. Binh, autor de vários livros sobre cineastas como Bergman, Lubitsch e Mankiewicz, pensou justamente em casamentos perfeitos e separações desastrosas ao conceber a mostra para a Cité de la Musique – ela ficou em cartaz em Paris, entre março a agosto do ano passado, e será aberta nesta sexta-feira, para convidados, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Por meio da mostra, totalmente interativa, o público vai conferir os motivos que levaram amigos de longos anos a romper a parceria ou, ao contrário, fortalecer seus laços por meio do cinema.

Vista por mais de 90 mil pessoas em Paris, Música & Cinema: O Casamento do Século? é mais que uma exposição. Ela reúne a produção de 35 duplas como Hitchcock/Herrmann, Fellini/Nino Rota, Jacques Demy/Michel Legrand, Spielberg/John Williams, além de compositores brasileiros que escreveram trilhas para filmes, entre eles Tom Jobim (Gabriela, Porto das Caixas, Crônica da Casa Assassinada). O público é estimulado a entrar num pequeno estúdio de mixagem e fazer alterações nas bandas sonoras de filmes como Cidade de Deus (música de Antonio Pinto e Ed Côrtes), além de descobrir como eram as trilhas sonoras originais de superproduções como 2001, Uma Odisseia no Espaço, antes que o diretor Stanley Kubrick rejeitasse a música de Alex North.

Como se sabe, Kubrick trocou a trilha de North, então um dos mais prestigiados compositores de Hollywood, por peças eruditas de Johann Strauss (Danúbio Azul), Richard Strauss (Also Sprach Zarathustra) e Györgi Ligeti (Atmosphères), entre outros. “Afinal, acho que Kubrick tinha razão, pois a música de Alex North era quase uma ilustração do filme”, conclui o curador da exposição.

“Georges Delerue costumava dizer que um compositor não é um verdadeiro autor de cinema se não tiver pelo menos uma trilha rejeitada”, observa Binh, citando o próprio Delerue, que teve sua trilha para Regarding Henry (Uma Segunda Chance, 1991) substituída pela música do alemão Hans Zimmer. “Por vezes é uma exigência do produtor, para tornar o filme mais palatável, mas houve casos mais graves, envolvendo o próprio realizador.” Talvez o mais dramático, segundo o curador, seja o do fim da parceria de 12 anos e 8 filmes de Hitchcock com Bernard Herrmann, que compôs obras-primas como as trilhas de Psicose e Um Corpo Que Cai. “Foi durante a gravação de Cortina Rasgada, em 1966”, conta Binh. Hitchcock queria uma trilha mais pop. Herrmann, inflexível, recusou-se a fazer concessões. Nunca mais se falaram.

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