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Exposição Rio do Céu mostra fotos do Rio clicadas por Cláudio Edinger

O Rio de Janeiro já foi fotografado de todos os ângulos possíveis desde os tempos em que o franco-brasileiro Marc Ferrez (1843-1923) registrou a beleza cenográfica da cidade no século 19. O Rio mudou e a sociedade acompanhou essa transformação, mal conseguindo enxergar hoje a beleza captada no passado por Ferrez. Foi com o propósito de resgatar esse deslumbramento com a paisagem da ex-capital que o fotógrafo Cláudio Edinger, nascido no Rio, mas paulistano por tempo de moradia, decidiu fotografar a cidade de helicóptero. O resultado é a exposição Rio do Céu, com curadoria do artista e de Paulo Kassab Jr., que a Galeria Lume abre nesta sexta, 22, com 11 fotos.

Se Marc Ferrez buscou retratar uma cidade sem as imperfeições do real, Edinger usa o foco seletivo para traduzir o paradoxo do olhar, que, concentrado na beleza, deixa de ver aquilo que circunda o objeto selecionado. Numa analogia pictórica, ele compara o desfocado nessas paisagens a um exercício de caráter impressionista, em que o que está em foco encontra equivalência no que sai de foco pela instabilidade da luz. “Estamos sempre vendo simultaneamente as coisas com e sem foco, tendo de conviver com esse paradoxo”, observa.

Obviamente, não é a primeira vez que alguém usa o “tilt and shift” para aumentar a profundidade de campo e fazer com que cenários reais se pareçam com miniaturas, mas é essa técnica, desenvolvida com uma lente Canon em 1973, que faz o Rio de Janeiro parecer uma maquete nas recentes fotos de Edinger. É possível identificar nelas os arcos da Lapa e a Candelária como elementos de uma Lilliput contemporânea vista em plongée por um Gulliver moderno.

Há 15 anos Edinger faz pesquisas com foco seletivo e fotografa a sua cidade natal. Começou esses estudos com uma câmera Sinar 4 x 5, após ter recorrido a uma Hasselblad para fazer dois ensaios sobre a loucura, um sobre o Juqueri (1990) e outro sobre o carnaval (1991). “Esses ensaios sempre vêm em pares, relacionando, por exemplo, a demência e o delírio carnavalesco”, explica o fotógrafo, que, desta vez, dispensou a figura humana para se concentrar na arquitetura e na paisagem natural do Rio, que já mereceu um livro (em 2003) ao lado de outro volume sobre São Paulo (2002).

Seu interesse, porém, não é a foto arquitetônica, que tem em Cristiano Mascaro um especialista – que Edinger, aliás, considera seu mestre. “A boa foto é uma síntese e, nessa pesquisa sobre foco seletivo, passei por Deleuze e retrocedi a Aristóteles para combinar numa imagem o ethos, o pathos e o logos”, diz. Entre esses três modos de persuasão, Edinger demonstra uma nítida inclinação pelo pathos, o apelo emocional ao público, o que fica evidente quando se vê as fotos reproduzidas nesta página.

Naturalmente, haverá quem identifique nessa busca da beleza um ideal que não existe, uma tentativa de camuflar o real com uma composição artificialmente construída e cores saturadas. A resposta antecipada de Edinger: “Você não tem nada disso na vida real, é a realidade inventada mesmo, um exercício pictórico como o dos impressionistas”. E depois, acrescenta o fotógrafo, “muito antes de Edward Weston, tudo era foco seletivo, essa não é uma invenção contemporânea”, diz, referindo-se a grandes paisagistas como o norte-americano Ansel Adams (1902-1984).

Seu conterrâneo Edward Weston (1886-1954), em busca da quintessência do objeto fotografado, abjurou a estética pictorialista nos anos 1920. Edinger considera, no entanto, que ela tenha ainda muito a revelar sobre a realidade. Não por acaso, a Rocinha aparece desfocada nas fotos do Rio, como um efeito ótico digno dos macchiaioli. “A Rocinha é contingência, a natureza é essência”, argumenta. “O Rio é violento? É, sim, mas a Chicago dos anos 1930 também era e tinha um péssimo sistema de saneamento com o esgoto se infiltrando na cidade”, conclui o fotógrafo, que morou por 20 anos nos EUA.

Foi lá que Edinger publicou, em 1987, um dos seus 15 livros, pela Viking Press, que traz uma série de “stills do filme Ironweed, de Hector Babenco, recentemente falecido. Curiosamente, foi sua única experiência na área de cinema. Formado em Economia pelo Mackenzie, ele ganhou sua primeira máquina num concurso da faculdade, em 1972, chegando a expor no Masp (1975) antes de embarcar para Nova York, em 1976, e morar no mítico Chelsea Hotel, onde realizou uma série sobre seus excêntricos moradores.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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