A exposição As Aventuras de Alice, que será aberta no Farol Santander nesta sexta, 24, é mais uma entre as tantas canceladas pela pandemia em 2020. Que ela seja realizada agora é uma feliz coincidência histórica. Há 160 anos, no dia 4 de julho de 1862, Lewis Carroll fez um passeio de barco com a família do amigo Henry Lindell e contou uma história para as crianças. A protagonista se chamava Alice, e Alice Lindell (1852-1934), a quarta filha desse amigo de Carroll, então com 10 anos, pediu que ele colocasse a história no papel. Era dela, para ela.
A menina ganhou, então, uma edição caseira de Aventuras de Alice no Subterrâneo. Pouco depois, em 1865, foi lançada uma primeira versão em livro. No ano seguinte, outra. O nome não é mais o mesmo, mas, há mais de 150 anos, Alice no País das Maravilhas vem encantando gerações de leitores – de crianças a adultos, de matemáticos a psicanalistas.
Essa passagem é contada na entrada da exposição, que é informativa, imersiva e para todas as idades, assim que o visitante passa por uma instalação de portas coloridas e pela edição fac-similar do livro original.
O primeiro andar é, segundo o curador Rodrigo Gontijo, um ambiente mais informativo: "A superfície da mostra", como ele coloca. As informações introdutórias estão numa sequência de grandes cartas de baralho, mesclando textos e fotos. Aprendemos sobre Carroll, Alice e a obra. A Alice real, inclusive, aparece em um vídeo gravado quando ela tinha 80 anos.
Ainda nessa seção chamada Biblioteca, encontramos uma estante dedicada a brasileiros que traduziram ou adaptaram a história, ou se inspiraram nela. Há a tradução de Monteiro Lobato, a primeira lançada aqui, e livros dele em que a menina aparece. E também uma versão em cordel, de João Gomes de Sá. Ao lado, há várias edições de Alice no País das Maravilhas abertas no início do mesmo capítulo, o 4, para que o leitor conheça diferentes traduções.
Do outro lado, há a reprodução das ilustrações originais, de John Tenniel, e explicações sobre os personagens – por que o Gato de Cheshire sorri, por que o Coelho está sempre atrasado, por que o chapeleiro é chamado de maluco, etc.
<b>MEMORABILIA</b>
Entrando num segundo ambiente, o Gabinete das Curiosidades, somos levados à Inglaterra vitoriana. A coleção-instalação da artista Adriana Peliano, presidente da Sociedade Lewis Carroll do Brasil, com toda a sua memorabilia acerca do universo de Alice, e o quadro da americana Maggie Taylor, em que recria fotos de época introduzindo elementos da história, estão em destaque ali.
Neste andar, o visitante conhece ainda livros giratórios e também um taumatrópio, um dos mais antigos e populares objetos de animação, criado em 1824, por meio do qual é possível ver desenhos em movimento. Cartazes antigos e uma sala em que é projetada uma primeira adaptação, de 1903, encerram a primeira parte da visita.
<b>MUNDO DA IMAGINAÇÃO</b>
Seguindo as pegadas do Coelho pela escadaria do Farol Santander, caímos na Toca do Coelho – a entrada do segundo andar da exposição. O visitante é convidado a se sentar e fazer uma "viagem estereoscópica (3D)" pela queda de Alice na toca – a cena, retirada de 21 filmes, é projetada ali. É o início de um mergulho sensorial na obra que por si só já é um mergulho no inconsciente.
Por falar em leitura psicanalítica do clássico de Carroll, Christian Dunker é uma das pessoas que gravaram depoimentos para a mostra, exibidos em vídeo, na seção O Conselho da Lagarta. Há também falas de, entre outros, Adriana Peliano, Antonio Peticov, presente também por meio de suas telas, e Ozi, que grafitou uma parede.
A exposição segue na sala Um Chá Maluco, com uma instalação de 20 televisores exibindo desenho animado e outra com cadeiras empilhadas. Dali, o visitante chega à área dedicada à Rainha de Copas – um videomapping com cenas de 13 diferentes filmes. A última sala presta uma homenagem a outro livro – Alice Através do Espelho e o Que Ela Encontrou Lá, que, em 2022, completa 150 anos. Ao som de I Am the Walrus, dos Beatles, e um vídeo tipográfico que projeta palavras e frases nos espelhos que forram a sala, o visitante começa a deixar o mundo onírico de Alice e voltar à realidade.
"Alice representa esse devir criança, o devir da imaginação e daquela pessoa que se fascina pelas coisas. Alice é essa criança que se encanta pelo mundo das maravilhas e o desafia. Ela traz esse novo olhar sobre como encarar e recriar o mundo", diz o curador, que é pesquisador de cinema e se encantou por Alice nas telas.
<b>As Aventuras de Alice</b>
Farol Santander
Rua João Brícola, 24.
Tel. (11) 3553-5627. 3ª a dom.,
9h às 20h. R$ 30.
Até 25/9
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>