Estadão

Exterior e ações do governo contra atos limitam queda do Ibovespa

A queda do Ibovespa na abertura desta segunda-feira, 9, foi fato consumado, dado o aumento da incerteza com o Brasil após as ações antidemocráticas no domingo em Brasília, promovidas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Porém, as medidas adotas pelo governo contra os atos extremistas, o apoio de entidades, autoridades e da comunidade internacional atenuam a desvalorização. Por ora, o indicador caminha para interromper uma série de três fechamentos em alta. Na sexta, subiu 1,23%, aos 108.963,70 pontos.

Segundo Victor Inoue, head de produtos da WIT Invest, o efeito no índice Bovespa é limitado pois a maioria das declarações de centro de direita repudiam os atos. "Ou seja, não tem perigo de rompimento do atual governo", diz.

Outro ponto que inibe um recuo forte do indicador da B3, acrescenta Inoue, é o fato de estar atrativo. "Esperava um pouco mais de queda, mas bateu mais no dólar, até porque lá fora cai. Difícil o Ibovespa cair muito mais pois o valuation está comprimido. Se não fossem os ataques, poderia acompanhar o exterior", afirma.

Os ataques de grupos radicais na capital federal no domingo influenciam o índice Bovespa pois mostram uma situação de intranquilidade, expondo uma fragilidade "gigantesca" do Brasil, avalia a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. Em sua opinião, em meio a estimativas de aumento das dúvidas, o investidor estrangeiro é o que mais tende a se retrair.

Apesar da gravidade das cenas de extremistas, o recuo é modesto, sem gerar "pânico", como descreve Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos.

Além disso, para Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, o desempenho moderado do mercado local pode estar associado ao fato de estar "subavaliado, a despeito das primeiras iniciativas do governo eleito, que elevaram o nível de risco político e econômico." Segundo a economista, a continuidade dos efeitos negativos dos atos golpistas nos ativos dependerá de como o governo se posicionará em relação aos acontecimentos, das medidas impostas e se haverá prolongamento das manifestações.

No exterior, há alta dos ações internacionais e do petróleo, em meio a perspectivas de um Fed menos duro na condução dos juros e por reabertura da China. Ao mesmo tempo, analistas avaliam como positiva a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ontem, durante os ataques. Avaliam com bons olhos a postura firme do governo federal, a indicação de união entre o Estado, entes regionais e a Suprema Corte, ainda que isso possa ser um teste de governabilidade ao presidente Lula.

Mesmo que a desconfiança não seja extrema, as dúvidas persistirão, dado que não se sabe até onde esses manifestos podem chegar. Isso porque os opositores ao governo podem não parar de agir. Há risco de bloqueios em estradas, por exemplo.

Ainda que o novo governo tenha assumido e que não haja espaço para contestação do resultado da eleição nas urnas, Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos, pondera que é preciso acompanhar os acontecimentos passados e futuros com atenção. "É preciso ver se os atos perdurarão e se continuarão fortes."

Neste sentido, os investidores vão continuar monitorando com afinco os desdobramentos dos ataques ontem na capital federal e as eventuais novas ações de Lula, que se reúne com a ministra Rosa Weber (STF) e com governadores.

Em meio aos ataques ontem em Brasília, o presidente Lula decretou uma intervenção sobre o governo do Distrito Federal e anunciou como interventor o atual secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli. Ao mesmo tempo, o Exército pôs 2,5 mil homens de cinco unidades do Comando Militar do Planalto (CMP) para enfrentar os radicais bolsonaristas que invadiram os prédios na praça dos Três Poderes. Já Alexandre de Moraes ST), determinou o afastamento por 90 dias do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), do cargo, e a desocupação total dos acampamentos em 24 horas.

Às 11h19, o Ibovespa cedia 0,39%, aos 108.476,03 pontos, após subir 0,25%, na máxima aos 109.237,66 pontos, e mínima aos 108.134,33 pontos (-0,76%). As ações da Petrobras avançavam entre 0,25% (PN) e 0,82% (ON), enquanto o petróleo sobe acima de 2% no exterior. Já Vale ON cedia 0,01%; CSN ON perdia 0,92% e Usiminas PNA recuava 0,92%. Gerdau PN, por sua vez, subia 1,85%.

As bolsas asiáticas fecharam em alta, à medida que o sentimento melhorou após a reabertura das fronteiras da China com Hong Kong e com um rali em Wall Street motivado por dados do mercado de trabalho dos EUA. Contudo, o minério fechou em queda de 2,49% em Dalian, cotado a US$ 121,40 por tonelada.

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