As preocupações com a possibilidade de juros globais elevados por mais tempo do que o imaginado contaminam os ativos internacionais, limitando alta do Ibovespa. Além disso, os contínuos temores internos com o fiscal, em meio à espera pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da transição, seguem no radar, bem como novos dados fracos da China reforçando desaquecimento da atividade. Ainda assim, o minério de ferrou subiu por lá, na esteira de que o gigante asiático conseguirá crescer acima de 5% em 2023.
Com isso, a decisão judicial favorável à Petrobras em relação à distribuição de dividendos e a alta de 3,23% do minério de ferro em Dalian aliviam, assim como relatos de que a Lei das Estatais, aprovada esta semana na Câmara, não vai sofrer alteração no Senado. "Pode ser que não tenha tanto espaço para intervenção", diz uma fonte que prefere o anonimato.
De todo modo, a alta do Ibovespa é moderada, tentando ao menos defender os 104 mil pontos, após abertura aos 103.739,25 pontos (-0,01%) e mínima aos 103.014,26 pontos (-0,71%). Segundo o economista-chefe da RPS Capital, Victor Candido, há fatores ténicos e não somente fundamentos que explicam a volatilidade e fraqueza do índice Bovespa.
"Fim de ano atrapalha. Quem ganhou dinheiro, segura um pouco, e quem não lucrou está tentando entender o cenário. O mercado parece que está um pouco cansado. Há muita notícia, não consegue ter controle, definir uma direção tanto aqui quanto lá fora. Daí, o mercado vai ora para um lado, ora para outro", avalia Candido.
Por aqui, cita Candido, os investidores tentam entender qual o rumo tomará a PEC da Transição e qual será o norte do novo governo. "Qual o poder do futuro ministro Fernando Haddad Fazenda, como ficará a PEC…", cita do economista da RPS Capital.
A preocupação fiscal segue no radar, à medida que a PEC da transição segue travada. "Aqui, o governo segue na teoria do bate e assopra. Lula sendo duro em seu discursos e sofrendo barganhas de cargo, enquanto Haddad tenta suavizar com discurso que agrada ao mercado, mas tem muita coisa voltando e acontecendo como a mudança na lei das estatais e julgamento do orçamento secreto pelo STF, aprovação da PEC na Câmara muito complicada", detalha o economista Álvaro Bandeira.
"O mercado ficará à espera da votação da PEC da transição. Teve o RTI e ainda haverá entrevista com o Roberto Campos Neto presidente do BC, mas acho que não mudará nada, não haverá surpresas quanto ao rumo da Selic", diz Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.
Ontem, o índice Bovespa conseguiu fechar em moderada alta de 0,20%, só que com uma pontuação beirando os 100 mil pontos (103.745.77 pontos), apesar do recuo nas bolsas americanas. Por lá, embora o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tenha reduzido o ritmo de alta dos juros ontem, como o esperado, para meio ponto porcentual, as palavras do seu presidente Jerome Powell foram consideradas duras. No geral, indicou que as taxas ficarão elevadas até que a inflação convirja para a meta.
Na avaliação do economista Carlos Lopes, do BV, a sinalização do Fed é de que a taxa final dos juros norte-americanos vai demorar para ser alcançada, e que faltam novos ajustes para se conseguir trazer a inflação mais para baixo.
Hoje foi a vez do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), que decidiu elevar sua taxa básica de juros em meio ponto, para 3,50%, e do Banco Central Europeu, na mesma magnitude.Também houve aumento dos juros na Suíça e na Noruega. Ainda sai um bateria de indicadores dos EUA que serão acompanhados pelos mercados.
Por aqui, a percepção também é de que a Selic seguirá no atual nível de 13,75% ao ano por um período maior do que esperado pelo mercado, até que o Banco Central (BC) "tenha mais conforto em relação à convergência da inflação", diz Lopes.
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado mais cedo, trouxe um boxe sobre o prêmio de risco nas taxas de juros nominais brasileiras. O documento alerta que bancos centrais precisam monitorar e entender os movimentos das taxas de juros de longo prazo, que embutem os prêmios de risco, ao avaliar as condições financeiras.
Às 11h22, o Ibovespa subia 0,62%, aos 104.473,18 pontos, após máxima aos 104.622,36 pontos, em alta de 0,84%. Petrobras tinha elevação de 3%. Já Vale subia 0,92%.