Ações ligadas a commodities e ao consumo dão força ao Ibovespa, que busca os 121 mil pontos, marca vista pela última vez em 16 de agosto. Após ceder em torno de 5% mais cedo, o petróleo reduz o ritmo de declínio, permitindo certo alívio às ações da Petrobras. Porém, o que chama a atenção mesmo é a valorização de papéis relacionados ao consumo, na esteira da queda do dólar e dos juros futuros.
Às 11h17, o Ibovespa subia 0,15%, aos 120.361,94 pontos, após máxima diária aos 120.879,66 (alta de 0,52%), elevando o ganho mensal a cerca de 6% e o trimestral para quase 15%. A valorização interna acontece apesar do declínio em Nova York. No entanto, por se tratar de fechamento de mês e de trimestre, investidores tendem a aproveitar para promover ajustes na sua carteira, elevando a cautela. Além disso, lembra Enrico Cozzolino head de análise e sócio da Levante Investimentos, os mercados estão à espera do payroll, amanhã, o relatório oficial de emprego dos EUA.
Investidores monitoram novas ofensivas da Rússia na Ucrânia, após o Kremlin se comprometer a reduzir suas forçar militares nas redondezas de Kiev. Ao mesmo tempo, o noticiário político no Brasil vai ganhando força, à medida que a janela partidária termina amanhã.
Porém, espera-se volatilidade elevada, tanto pela divulgação da inflação americana quanto pela reviravolta no cenário político, com a desistência do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), da candidatura presidencial", avalia em nota a Levante Ideias de Investimentos. "O novo movimento dos tucanos cai como uma bomba para o partido, mas também para o campo da terceira via das eleições presidenciais."
Contudo, o tema eleição não deve ser determinante, mas começa a ser monitorado com mais afinco, à medida que os riscos relacionados à guerra na Ucrânia, em tese, já são conhecidos, avalia Cozzolino.
Apesar da alta em torno de 3% do minério de ferro na China, as ações do setor na Bolsa miram queda, na esteira de dados da indústria chinesa mais fracos do que esperando, o que eleva preocupações em relação ao desaquecimento do gigante asiático.
"No Brasil, este ambiente externo não favorece a bolsa, dada a forte queda do petróleo e os dados da China", avalia em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
Ainda que o pregão seja marcado por volatilidade, o índice Bovespa caminha para fechar o mês com ganho robusto, podendo, no mínimo, se igualar à marca vista em março de 2020 (6%). No entanto, o encerramento do primeiro trimestre deve ser ainda mais expressivo, podendo ser o melhor desde o período de janeiro a março de 2016, quando subiu 15,47%. Até agora, a alta acumulada no primeiro trimestre é de 14,73%.
Além disso, temores inflacionários globais persistem. No Brasil, setores do governo de Jair Bolsonaro estudam a concessão de um reajuste de 5% a todos os servidores do Executivo federal, em meio à pressão crescente do segmento por aumento salarial. A ameaça de greve no Banco Central e paralisações no Tesouro e na Receita prosseguem, elevando preocupações não só com a inflação, mas também com o fiscal, dado a medida vai de encontro ao teto de gastos, sem espaço para novas despesas. Porém, algumas categorias afirmam que o aumento seria insuficiente.
Nos EUA, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 0,6% em fevereiro ante janeiro, enquanto o núcleo teve alta de 0,4%, como o esperado. Já os pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram 14 mil, a 202 mil, ante previsão 195 mil. Os dados tendem a elevar a pressão para que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) seja mais agressivo na condução da política monetária.
Na tentativa de conter a escalada dos preços do petróleo e da inflação, o governo americano sinaliza uma possível liberação de 1 milhão de barris diários de suas reservas estratégicas. Com isso, a commodity cai esse recuo atenua moderadamente expectativas inflacionárias em ações ligadas ao consumo na Bolsa juntamente com a edição de um novo decreto passando de 25% para 33% a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para completar, o arrefecimento da taxa de desemprego a 11,2% no trimestre até fevereiro, após 14,5% em igual período de 2021, é bem-vinda, sobretudo após o Caged de março mostrar geração de vagas.