Estadão

Fala de Lula amplia temor do mercado com Brasil e Ibovespa toca mínimas, apesar de alta em NY

O Ibovespa abandonou a marca dos 124 mil pontos – vista pela primeira vez no final de maio – retomada na quinta-feira, 27, e mantida até há pouco, destoando da alta e máximas em Nova York. O principal indicador da B3 adotou uma sequência de mínimas, a despeito da valorização das bolsas norte-americanas e das duas ações de maior peso na carteira, Vale e Petrobras, em meio a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A elevação dos juros futuros e do dólar ante o real, que já tocou R$ 5,5854 na máxima, explica parte do recuo do Ibovespa.

"Hoje tem vencimento de dólar futuro e a curva estressou. Ontem o índice Bovespa segurou bem, mas hoje não consegue. Isso é reflexo do estresse da véspera nos juros e no dólar. A pauta fiscal tem ganhado mais corpo e o mercado exige mais clareza em relação a corte de gastos", diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester.

De acordo com Lourenço, falas recentes do presidente Lula, com críticas ao mercado e ao Banco Central, não soam nada bem. Em nova fala sobre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, Lula acrescentou: "Isso vai melhorar quando eu puder indicar o presidente do Banco Central, e vamos construir uma nova filosofia."

O presidente defendeu a abertura de uma investigação pelo BC sobre a especulação com derivativos para valorizar o dólar. Em entrevista à Rádio FM O Tempo, Lula afirmou que "o dólar está subindo porque tem especulação com derivativos" para enfraquecer a moeda brasileira. Declarações similares já haviam sido feitas ontem.

Desta forma, apesar de ainda sustentar alta em junho de 1,00%, o Ibovespa aprofunda as perdas do semestre a 8,00%. "É uma queda relevante, não é normal quando se tem um processo de queda de juros sete cortes seguidos da Selic, iniciados em agosto/2023", diz Bruno Mori, economista e planejador financeiro CFP pela Planejar, ao lembrar dos riscos fiscais.

Na avaliação de Mori, dada a flexibilização monetária no Brasil, o Índice Bovespa teria espaço para recuperar não fossem as incertezas internas. "Subiria não por fundamento, mas por correção. O mercado faz a conta do peso fiscal. Tivemos eventos extraordinários que não se repetirão na arrecadação. É preciso algo concreto", afirma.

Já em Nova York, as bolsas sobem, renovando máximas, depois da divulgação do PCE de maio. O resultado do PCE reforça a ideia de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortará o juro americano duas vezes neste ano: em setembro e dezembro.

"Foi bem dentro das expectativas. Mostra uma redução tímida em relação ao dado passado e que a economia está esfriando, provavelmente terá um pouso suave. Mas não ter surpresa positiva para cima é bom", avalia Mori.

O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) ficou estável nos Estados Unidos em maio, na comparação com abril, informou há pouco o Departamento do Comércio. O resultado veio em linha com o esperado por analistas. Na comparação anual, o PCE subiu 2,6%, também como previsto.

Às 11h21, o Ibovespa caía 0,60%, aos 123.555,87 pontos, ante recuo de 0,81%, na mínima aos 123.298,10 pontos, após subir 0,15%, na máxima aos 124.500,19 pontos. Entre outros recuos, os papéis de grandes bancos cediam, com destaque à queda de cerca de 1,00% de Itaú Unibanco e Unit Santander; Bradesco PN perdia 0,72%.

Entre o setor de consumo, mais sensível ao ciclo de juros, MRV e Pão de Açúcar tinhas as maiores quedas de 4,45% e 3,90%, pela ordem. Já Vale subia 1,14% e Petrobrás avançava entre 0,32% (PN) e 0,65% (ON), apesar do recuo do petróleo no exterior. Ainda assim, as cotações seguem em nível elevado e considerado favorável ao caixa da estatal, segundo analistas.

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