A falta de convicção do governo quanto à política de concessões em infraestrutura é um dos erros que foram cometidos no passado e que precisa ser tomada como exemplo para não ser repetida. Este é o diagnóstico feito pelo professor da Escola de Engenharia da UFRGS, Luiz Senna, ao participar da edição sobre infraestrutura do Fóruns Estadão, com o tema “Caminhos para o Crescimento”, realizado na manhã desta sexta-feira, 23, na capital paulista.
Segundo o especialista, o governo tem tomado ações muito pontuais, sem considerar a dimensão das redes de transporte nos diferentes modais. “Mesmo o Programa de Investimento em Logística (PIL, que prevê investimentos da ordem de R$ 198 bilhões) é pequeno para a dimensão das redes de transporte no País”, avaliou.
Entre os aprendizados com erros do passado, o professor da UFRGS também citou a recorrente decisão de políticos de não conceder os reajustes de pedágios em anos de eleição, mesmo se tratando de uma questão contratual. “Há também omissões por parte do governo, que não faz a defesa do seu programa de concessões e deixa isso para as concessionárias”, afirmou.
O resultado, detalhou, é que a sociedade não entende que os leilões e as rodovias privatizadas se tratam da terceirização de um sistema de infraestrutura, o que facilitaria as discussões necessárias sobre custos, tarifas e quem deve pagar pelos serviços.
Investimentos
Para o sócio da Galípolo Consultoria, Gabriel Galípolo, o governo e a sociedade precisam discutir a questão do financiamento dos serviços públicos e a ampliação da infraestrutura. “Todo serviço público tem um custo de implantação, operação e manutenção. Quem vai pagar, o contribuinte ou o usuário? Quando alivio o usuário, estou chamando a sociedade para ratear o custo”, disse.
Galípolo afirmou que o argumento de que tarifas mais altas tiram a competitividade da economia brasileira por imporem custos altos é válido, mas que custos ligados a frete e falta de infraestrutura trazem impacto ainda maior.
“Quando olhamos a nossa matriz de transporte vemos que está associada a países de dimensões menores do que o nosso. Países maiores usam modais ferroviários e hidroviários, já que o modal rodoviário é o menos eficiente em termos de carga/potência, consumo e emissão de poluentes”, destacou. “Não é que precisamos fazer menos rodovias, precisamos fazer mais de tudo, mas não temos recursos para subsidiar tudo. O que não for subsidiado, o preço de oferta deve convergir para tarifas mais altas”.