A corrida global por componentes eletrônicos, cuja escassez vem parando fábricas em todo o mundo, chegou à indústria brasileira provocando desde atrasos de produção a paralisações completas de linhas. Na indústria de automóveis, a Honda já havia parado na semana anterior ao carnaval a fábrica de Sumaré (SP) e voltará a interromper a produção nos dez primeiros dias de março. A montadora ficou sem circuitos eletrônicos para produzir o compacto Fit e os sedãs Civic e City.
Como a eletrônica é necessária em quase todas as partes de um veículo, dos painéis de instrumentos e dispositivos de mídia aos sistemas de frenagem, itens como sensores, microprocessadores e semicondutores são hoje essenciais ao setor.
Em linhas mais flexíveis, a saída tem sido manter as fábricas ocupadas com os modelos sem problemas de componentes, adiando aqueles em que não há material suficiente para concluir a montagem. Isso tem, por enquanto, evitado paradas mais prolongadas, mas não atrasos que geram falta de carros nas concessionárias e dificuldade de recomposição de estoques, atualmente em níveis historicamente baixos.
Nas fábricas de eletrônicos, como notebooks, TVs e celulares, os componentes eletrônicos importados da Ásia entraram em janeiro no rol de insumos com maior dificuldade de abastecimento. Na lista, ficam atrás apenas de papelão, materiais plásticos e cobre, segundo sondagem feita com associados pela Abinee, entidade que representa o setor.
De acordo com Wilson Périco, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), embora não exista registro até agora de interrupção de atividades, parte das empresas do polo de Manaus, onde está concentrada a produção nacional de eletroeletrônicos, motos e bicicletas, vem relatando falta de peças.
Os fornecedores de chips, em sua maioria asiáticos, não estão dando conta da dupla demanda: a da indústria em geral e a das fábricas de eletrônicos, que viram a demanda por seus equipamentos em meio à pandemia de covid-19.
Todos os maiores grupos automotivos do mundo – como General Motors, Stellantis (dona da Fiat, da Chrysler e da Peugeot), Ford, Volkswagen e Renault – já anunciaram ajustes de produção ou fechamento temporário de fábricas nos Estados Unidos, no México e na Europa por falta de peças.
No Brasil, não será surpresa se a decisão da Honda fizer um movimento parecido. Além dos componentes eletrônicos, o setor tenta contornar a insuficiência de insumos como aço, peças plásticas e pneus – que ainda deve durar mais seis meses.
Ao confirmar as paradas de produção em Sumaré em duas etapas, a Honda afirma que está adotando todas as medidas possíveis para minimizar os impactos provocados pelo desequilíbrio entre oferta e demanda de semicondutores, bem como qualquer inconveniente para o consumidor final.
A Mercedes-Benz, que produz caminhões e chassis de ônibus no ABC paulista, diz que um fornecedor de microprocessadores vem encontrando dificuldades de abastecimento. O estoque baixo de peças importadas obrigou a Mercedes a adiar em três semanas uma jornada extra de produção marcada para o mês passado.
<b>Fornecedores</b>
Segundo Besaliel Botelho, presidente da Bosch, grupo que fornece dispositivos eletrônicos para as montadoras, a falta de componentes se tornou um dos grandes desafios da indústria automotiva global, com reflexos agora no Brasil. Já a Continental informou que criou uma força-tarefa para dar respostas rápidas, monitorar gargalos de fornecimento e atualizar clientes sobre os prazos de entrega e eventuais necessidades de ajustes nos volumes de produção.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>