Estadão

Falta pegada a Drácula: A Última Viagem do Deméter, com vampiro assustador e roteiro fraco

Um dos nomes mais interessantes no "cinema de monstros" hoje é o norueguês André Øvredal. Tudo começou com o divertido O Caçador de Troll e, depois, foi para o cinema americano com A Autópsia e Histórias Assustadoras para Contar no Escuro – este último, produzido por Guillermo Del Toro. São bons, mas falta algo. Uma história mais coesa, desenvolvida, que mantenha a atenção do público. E é isso que acontece com o novo Drácula: <i>A Última Viagem do Deméter</i>, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 24 de agosto.

Inspirado em um dos capítulos do livro <i>Drácula</i>, de Bram Stoker, <i>Drácula: A Última Viagem do Deméter </i>acompanha o trajeto de um navio (o tal Deméter do título) que sai da Romênia e parte em direção ao Reino Unido. No entanto, no meio do caminho, as coisas começam a ir mal: os animais aparecem mortos, uma jovem misteriosa surge do nada dentro do navio e, quando parece que as coisas não podem ficar mais estranhas, os tripulantes desaparecem.

É, obviamente, um vampiro atacando na calada da noite, se alimentando aos poucos de sangue e ganhando força, forma e físico. Ainda que seja um filme geograficamente diferente de clássicos como <i>Nosferatu</i> e <i>Drácula</i>, de 1931, o personagem continua bem parecido. É inclemente e violento, se tornando um verdadeiro pesadelo na vida de suas vítimas – ou seria melhor chamar de presas, já que praticamente não possuem chance alguma de vida?

<b>Visual bonito, conteúdo feio</b>

A criação do tal monstro em <i>Drácula: A Última Viagem de Deméter</i> é inegavelmente criativa e original. Øvredal, que já tinha mostrado essa qualidade em todos seus filmes anteriores, sabe como transformar uma criatura em algo medonho e fascinante ao mesmo tempo. A gente quer desviar os olhos da tela, com medo do susto que pode surgir a qualquer momento. Mas, ao mesmo tempo, queremos ver aquela criatura em ação, perseguindo seres indefesos que só podem correr. O diretor sabe como brincar com monstro e com público.

No entanto, logo voltamos para esse problema já visto em outros de seus filmes e que já citamos: o norueguês está preso em um roteiro ruim (desta vez escrito por Bragi F. Schut, de <i>Escape Room</i>, e Zak Olkewicz, de Trem-Bala) que não sabe como ir além. O filme tem um bom monstro, personagens interessantes (apesar da obviedade dos tipos vividos por Corey Hawkins e Liam Cunningham) e um ambiente que flerta com o teatral, com a história retida em um espaço único, gerando o desespero de não ter como ou para onde escapar.

Só que as coisas terminam por aí. O roteiro arrisca que isso tudo é o bastante para manter o interesse do público – e, já aviso, não é. Ficamos sentados vendo passivamente os personagens morrendo pouco a pouco, sem clemência, e com absolutamente nada mais acontecendo, a não ser o desenvolvimento do vampiro. É a mesma coisa, uma atrás da outra, ad infinitum. Nós ficamos cansados e nem mesmo o visual salva. Fica chato.

Øvredal, de novo, não consegue salvar um roteiro ruim. Acredito que nem mesmo Del Toro, o mestre do cinema moderno de terror com monstros, conseguiria. <i>Drácula: A Última Viagem de Deméter</i> é sem criatividade, sem ousadia e com um final focado apenas em um desejo de fazer uma continuação – o que indica que pode ter muita mão de produtor aqui. Uma pena: o cineasta, talentoso, merecia ter mais liberdade para criar, assim como o Drácula e vampiros, há anos sem um grande filme, mereciam mais cuidado nos cinemas.

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