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Família de Aloysio Faria, ex-dono do Banco Real, está vendendo tudo

Uma das famílias mais tradicionais do mundo dos negócios do Brasil está "vendendo tudo" – uma decisão que coloca bilhões de reais em jogo. Desde que o banqueiro Alyosio de Andrade Faria morreu, em setembro de 2020, aos 99 anos, as herdeiras diretas – suas cinco filhas – começaram a desenhar a venda do considerável patrimônio da família. De acordo com fontes próximas à situação, o banqueiro definiu a tática de venda e divisão do patrimônio já em seu testamento, até como forma de evitar conflitos futuros.

O processo de venda, segundo apurou o <i>Estadão</i>, tende a ser longo e a envolver diferentes tipos de negócio. No entanto, um dos primeiros "frutos" dessa estratégia já apareceu: na quarta-feira à noite, o Banco Alfa foi vendido para o rival Safra por pouco mais de R$ 1 bilhão. Trata-se de um valor considerado baixo para a instituição financeira, além de ser muito inferior ao patrimônio líquido do conglomerado, de cerca de R$ 23 bilhões, segundo o Banco Central (BC).

Para a família, apesar de o valor ser considerado pequeno, deixar de ser controladora de uma instituição financeira tira um peso. Isso porque os controladores são responsabilizados em caso de insolvência de um banco, não importando se ela ocorrer por problemas internos de administração ou por problemas externos, como uma alta inesperada da inadimplência ou uma crise econômica aguda, por exemplo.

O Alfa foi criado por Aloysio Faria quando ele já tinha mais de 70 anos, depois da venda do Real ao holandês ABN Amro, em 1998. Com a incorporação desse grupo pelo Santander, alguns anos mais tarde, os ativos no Brasil passaram para o banco espanhol. A trajetória dos Faria no setor financeiro começou há quase cem anos, com a fundação do Banco da Lavoura, em Minas Gerais, em 1925. Foi essa instituição que, nos anos 1970, foi rebatizada como Real.

No entanto, a venda do Alfa deve ser só o primeiro passo dentro da estratégia de divisão de bens da família. Conforme uma fonte próxima ao assunto, o próprio Aloysio Faria deixou em seu testamento a recomendação, agora levada a cabo, da venda de ativos e da divisão de patrimônios em escritórios de administração de fortunas.

Cada uma de suas cinco filhas já tem herdeiros – e o gerenciamento desse dinheiro, daqui para frente, tende a ficar nas mãos dessa terceira geração. "Há gente bem preparada, que cursou boas faculdades, dentro da família, para fazer esse trabalho", diz uma fonte.

<b>O olho do dono</b>

De maneira geral, contou uma pessoa próxima à família, apesar de os negócios da família já serem administrados por executivos de mercado, a mão de Aloysio nas empresas sempre foi muito presente. Ou seja: os diretores contratados estavam lá basicamente para levar adiante estratégias que, em primeira instância, eram desenhadas por ele.

Conforme mostrou reportagem do <i>Estadão</i> publicada meses antes da morte do "banqueiro invisível", mesmo aos 99 anos ele era uma presença constante nos negócios familiares. Nos últimos tempos, mesmo vivendo em uma fazenda em Jaguariúna (MG), ele continuava dando as cartas nas empresas. Até pouco antes do início da pandemia de covid-19, no entanto, ele ainda dava expediente na sede do Grupo Alfa.

<b>Vendas em série</b>

Antes da venda do Banco Alfa, a família já havia tomado uma decisão importante: passara adiante o terreno onde funcionavam o Hotel Transamérica e o Teatro Alfa, na Marginal Pinheiros, para um projeto ousado que tem envolvimento do BTG Pactual.

O projeto prevê a criação de uma piscina com ondas de altíssimo padrão, para que os endinheirados de São Paulo possam praticar suas habilidades no surfe sem ter de ir para o litoral paulista ou para o Rio de Janeiro. O projeto será administrado pela JHSF, dona do Fasano e do Cidade Jardim. O empreendimento de luxo terá cotas de cerca de R$ 800 mil, para as quais já haveria interessados.

Se um banco e um terreno gigantesco em uma das áreas mais nobres de São Paulo já parece muito, na verdade a família ainda tem muito mais bens dos quais se desfazer. Entre as empresas, a varejista de materiais de construção C&C já começou a buscar interessados no mercado. Quem entende do setor, no entanto, afirma que se trata de uma negociação difícil.

Isso ocorreria por vários motivos. A Telhanorte, do grupo francês Saint Gobain, também está buscando um novo dono de forma concomitante. Além disso, considera-se que a grande vencedora da venda de materiais de construção foi a Leroy Merlin, que tem capital internacional, também francês, e um time de sócios locais de peso, incluindo a família Seibel, sócia da Itaúsa. Por fim, o negócio é considerado difícil, pois está muito atrelado às flutuações do setor de construção civil.

Entre as empresas da família, a "joia da coroa" é a Agropalma, que faz óleo de palma. O negócio faturou cerca de R$ 2,3 bilhões em 2021 e está posicionado em um setor considerado promissor. Em vez de se fazer uma venda simples, neste caso se considera uma saída por meio de um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). A família poderia vender a maior parte de suas ações na Bolsa, mas garantir uma fatia menor de uma companhia com liquidez e chances de valorização.

Os demais negócios nas mãos do herdeiro do "banqueiro invisível" são de menor porte. Entre eles estão a sorveteria La Basque, a fabricante de bebidas Água Prata e a Rádio Transamérica. Isso não quer dizer que o patrimônio alvo de uma eventual venda pare por aí: há ainda no inventário diversos imóveis, fazendas e também uma considerável coleção de obras de arte, contam fontes próximas à família.

O <i>Estadão</i> procurou a família Faria por meio da assessoria de imprensa do Banco Alfa, que afirmou não ter obtido retorno sobre o contato relativo à venda de bens.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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