A Amazônia parece um conto de fadas às avessas. Nela, a realidade está naquilo que poderia ser narrado – se fosse conhecido, enquanto, a fantasia se aloja naquilo que se toma por realidade. Fantasiosa é a suposição de que a região seja mero santuário ecológico. Grandes extensões de água, cobertas por grandes extensões de céu, como disse dela Euclides da Cunha, quando percorreu o Rio Purus, em 1905.
A realidade é que, quando disse isto, o grande escritor, também engenheiro, executava um trabalho de demarcações de rios cento e cinquenta anos antes já realizado na região por profissionais extraídos do que havia de melhor na Engenharia Militar da Itália e da Alemanha.
E o ensino da Engenharia completava, naquele ano, duzentos e seis anos de implantação do seu primeiro núcleo na Amazônia.
Não por acaso, naquele ano de 1905, jovens amazônidas, como Francisco Bolonha, formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, construíam palácios e grandes estruturas de ferro, sob a influência da Torre Eiffel, em Belém.
Nada há, portanto, mais parecido com um conto de fadas do que esta imagem da Amazônia como um novo Gênesis, sem cultura, sem História, sem Ciência. Ali, na verdade, se desenrola um rico processo de formação cultural, há quatro séculos.
Foi o relato de uma pesquisa deste longo período, no campo específico das construções, que frequentadores dos seminários e palestras organizados pelo Memorial da América Latina puderam ouvir, recentemente. A pesquisa, realizada durante 20 anos para o Grupo de Memória da Engenharia, do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará, terá agora seu relato publicado em livro, por iniciativa da professora-doutora Cremilda Medina. À conceituada autora de obras sobre Jornalismo Impresso coube organizar o evento através do qual esta visão da Amazônia, completamente desconhecida