Quando comecei a curtir Legião Urbana, em meados dos anos 80, muita gente torcia o nariz. Dizia que era só mais uma banda de rock que desapareceria como tantas outras… Renato Russo era um gênio. Eu não tinha dúvidas e passei a acompanhar de perto a trajetória do quarteto, depois trio. Era daqueles que comprava o LP no dia que chegava nas lojas, viajava para assistir shows dentro de minhas possibilidade etc e tal. Quando ouvi Faroeste Caboclo pela primeira vez, percebi que Renato era um pouco mais do que eu imaginava. Nove minutos de música sem qualquer repetição. Uma história e tanto. Um verdaeiro roteiro de filme policial. Lembro que, no meio das baladas em mesas de bar, atormentava meus amigos com minha voz desafinada, imitando Renato e atacando de Faroeste do começo ao fim, sem esquecer de nada da letra. Era motivo de sarro, é lógico. Mas não me intimidava não. O tempo passou, me formei jornalista e tive a honra de entrevistar Renato Russo em 1994, quando ele trabalhava o disco solo Stonewall. Foram dois telefonemas e quase uma hora de conversa prá lá de descontraída quando eu misturava um pouco de fã com o profissional. Quis morrer quando o editor do caderno de Cultura do jornal Shopping News abreviou minha matéria a uma coluna no canto de uma página secundária. Ele achava o Legião “uó”. Quando Renato se foi “cedo demais” em 1996, fiquei de luto. Lembro que amigos me ligavam para me dar os pêsames. Chorei muito mas me levantei e continuei comprando os novos lançamentos da Legião que ainda foram colocados no mercado. No dia do lançamento de “Somos tão jovens” eu estava lá no cinema e, como escrevi neste espaço, adorei a forma como abordaram o início da carreira de Renato. Nesta sexta-feira, meio de feriado, mais uma vez entrei na fila do cinema para assistir logo de cara o Faroeste Caboclo, imaginando que se tratava da história contada por Renato Russo. Mas – apesar de bem feito e ser bom – fui percebendo que o filme apenas se baseou na obra assinada pelo Legião, aproveitando-se de forma inteligente da lenda que se tornou um dos maiores astros do rock nacional. Repito: o filme é bom. Mas não é fiel à música. Muitos dirão que é apenas uma adpatação. E é mesmo. Mas seria possível sim ficar menos em cima das drogas e contar um pouco mais sobre a trajetória de João de Santo Cristo. Muitas passagens da música são completamente ignoradas. Outras são fiéis. Mas o saldo é um exagero de exposição de maconha e cocaína, além de excesso de violência. Não queria um filme feijão com arroz não. Mas creio que – já que queriam aproveitar o sucesso de Renato Russo – o Faroeste Caboclo no cinema poderia ser melhor. Choro de fã? Pode ser. Mas quando se exagera demais em cima de um tema corre-se o risco de errar. João de Santo Cristo de Renato Russo não foi apenas traficante. O do filme vive em função das drogas. De cabo a rabo. Resumo da ópera: o filme tem muitas qualidades. O maior erro, porém, é explorar em demasia ser uma obra de Renato Russo. A música é muito melhor.
FAROESTE CABOCLO FATURA EM CIMA DE RENATO RUSSO
Confira artigo do jornalista Ernesto Zanon sobre o lançamento do filme Faroeste Caboclo que se baseia -de longe - na música de Renato Russo