Estrela deste domingo, 24, no Rock in Rio Lisboa, Bruno Mars condensa a maior expectativa dos quatro dias de festival: o cantor havaiano motivou a corrida por ingressos que resultou na única data de lotação máxima no extenso Parque da Bela Vista. É “o melhor show do mundo na atualidade”, nas palavras do contratante, o presidente do Rock in Rio, Roberto Medina.
Mas na abertura desta oitava edição do “parque temático da música e do entretenimento” exportado pelos cariocas, no sábado, 23, o Muse tocou para um mar de portugueses absortos por sucessos como “Time is Running Out”, “Uprising”, “Resistance”, “Starlight” e “Madness”.
Foram 100 minutos do melhor do trio britânico, que trouxe os habituais efeitos visuais (projeções, chuva de papel picado, balões gigantes), riffs triunfais e solos do guitarrista e vocalista Matthew Bellamy, que até com a boca tocou, e do baixista Christopher Wolstenholme.
Estimado em 71 mil pessoas pela produção, o público que abarrotou a Cidade do Rock lusitana já havia chegado para ver mais uma banda inglesa, Bastille (antes, com lotação menor, o Palco Mundo recebeu a banda das irmãs norte-americanas Haim e o português Diogo Piçarra).
Foi outro poderoso set list: “Blame”, “World Gone Mad”, “Fake it”, “Things we Lost in the Fire”, o cover de “Rhythm is a Dancer”, hit dos anos 1990. O show foi ao por do sol, que no verão português desce por volta das 21 horas. “Esse festival tem um visual incrível aqui do palco”, elogiou o vocalista, Dan Smith, e o público novato, ao fotografar a paisagem.
A geografia da Cidade do Rock de Lisboa é um dos pontos altos do festival. O arborizado Parque da Bela Vista, que abriga o Rock in Rio há oito edições, fica numa colina, e o Palco Mundo é instalado num vale, de modo que as elevações formam um anfiteatro natural de cerca de 200 mil metros quadrados e capacidade para até 90 mil pessoas (marca a que o domingo deve chegar).
Quando a grama está bem cheia, a visão que se tem de cima é de uma massa humana impressionante. É uma configuração bem diferente da que se tem na Cidade do Rock carioca, hoje no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, que é plano.
Neste domingo, tocam no Palco Mundo o português Agir, seguido de Anitta (estreante no festival), Demi Lovato e, fechando a noite, Bruno Mars. Realizado em meio a jogos da Copa do Mundo, o Rock in Rio Lisboa parece alheio ao evento esportivo. Pela Cidade do Rock, a reportagem não avistou uma camiseta da seleção portuguesa – nem de qualquer outro país – durante todo o sábado. Tampouco os resultados das partidas eram assunto nas rodas de conversa.
Os portugueses acreditam em sua seleção, especialmente na figura do ídolo Cristiano Ronaldo. Só que costumam vestir a camisa vermelha e verde apenas em dias de jogos, disse o designer Jorge Sá, de 28 anos, à reportagem. “Os portugueses amam futebol e a Copa tanto quanto o Brasil, mas rock e jogo não se misturam necessariamente”, garantiu.
Um grupo de espanholas que foi ao Rock in Rio para marcar a despedida de solteira de uma amiga explicou: “Claro que estamos de olho na Copa, mas estar no festival é mais importante do que saber placar de jogo”, brincou a enfermeira María Galán, de 28 anos.
Anitta superstar
Quem é Bruno Mars mesmo? Para fãs portuguesas de Anitta, é ela a estrela do Rock in Rio Lisboa neste domingo, 24, e não o cantor havaiano, o último a se apresentar no Palco Mundo. A reportagem avistou grupos que vieram a caráter assistir à estrela pop carioca. As jovens vestiam camisetas customizadas com os dizeres “Vai malandra”, hit que chegou no topo das mais tocadas em Portugal, e “Que eu vou jogar bem na sua cara”, trecho de outro sucesso, “Sua Cara”.
“Eu vim por causa dela. É uma diva. Só não fico junto à grade (colada ao palco) porque quero dançar muito, e lá é apertado”, dizia a estudante Inês Bragança, de 20 anos. Ela mandou fazer as camisetas com a provocação de “Sua cara” com um grupo de nove amigas. “Anitta toca em todo lugar onde estou. Em muitas discotecas a gente rebola com ela. Não existe nada igual à batida brasileira”, contou a vendedora Maria João Severino, de 29 anos. “Conheci as músicas pelo YouTube e posts no Facebook. Já me acho uma funkeira”, brincou Sofia Claudino, de 20 anos, universitária.
O show Made in Brazil apresenta Anitta ao público europeu. Na tarde deste domingo, o público ouviu uma sequência de sucessos, como “Bang”, “Sim ou Não”, “Downtown”, “Paradinha”, “Sua Cara” e “Loka”, e dois covers: “Garota de Ipanema”, composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes que se tornou uma das canções brasileiras mais conhecidas em todo o mundo, e “Fantasy”, hit de Mariah Carey de 1955. De Lisboa ela segue para Paris e Londres.
Pabllo Vittar, que gravou “Sua Cara” com Anitta, também está em Lisboa, e se apresentou na noite de sábado com a angolana Titica, a “rainha do kuduro”. A participação surpresa foi no Arraial Lisboa Pride, evento LGBTQ. Mas ela não participa do show de Anitta.
Neste domingo, o Parque da Bela Vista está com lotação esgotada, 85 mil pessoas, segundo a produção. No sábado, 23, abertura do festival, a frente do Palco Mundo só encheu por volta das 19 horas. Dessa vez, toda a extensão do gramado está tomada desde o primeiro show, do cantor português Agir. Ele convidou a cantora brasileira Manu Gavassi para dividir a faixa “Ninguém vai Saber”, que gravaram juntos.
*A repórter viajou a convite do festival.