Após operar com sinal predominante de baixa pela manhã, o dólar ganhou força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 3, em alta de 0,39%, cotado a R$ 4,8084. O escorregão do real no primeiro pregão de julho vem depois de o dólar acumular perdas de 5,59% em junho e de 9,29% no primeiro semestre – a maior queda semestral desde 2016, período marcado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Segundo operadores, houve uma pressão compradora no segmento futuro, com investidores retomando parcialmente posições defensivas, na véspera do feriado de 4 de julho nos Estados Unidos. Com os mercados fechados por lá amanhã, o volume deve ser reduzido por aqui. Houve oscilação de quase cinco centavos entre mínima (R$ 4,7608) e máxima (R$ 4,8094), à tarde. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto teve bom movimento para uma segunda-feira, superando US$ 14 bilhões.
Uma ala do mercado comenta que o aumento das chances de corte da taxa Selic em 50 pontos-base pelo Copom em agosto, no que seria o primeiro passo de um ciclo mais forte de redução dos juros, poderia estar por trás do fôlego menor do real na sessão de hoje. Pela manhã, o boletim Focus trouxe nova rodada de queda das expectativas de inflação, o que – somando à decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3% para até 2026 – deixaria o BC à vontade para reduzir os juros. Em geral, contudo, a avaliação predominante é a de que o país continuará com taxas reais elevadas, e atrativo para operações de carry trade.
Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar frente a seis divisas fortes – também se firmou em leve alta à tarde, ao redor dos 103,000 pontos. Apesar de dados fracos do setor industrial nos EUA, as taxas dos Treasuries avançaram, com manutenção das apostas em alta adicional dos juros nos EUA.
O diretor de tesouraria do banco de câmbio Braza Bank, Bruno Perottoni, vê exagero nas apostas em uma redução de 0,50 ponto da taxa Selic em agosto. Petroni observa que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apesar de sinalizar que há espaço para cortes, mantém um tom mais conservador. Além disso, o quadro inflacionário global preocupa e há possibilidade de novas altas de juros nos EUA.
"Se o BC sinalizar que diante das condições econômicas vai cortar os juros com parcimônia, não vejo sustos no câmbio. O Brasil continua atraente para carry", afirma Petroni, que atribui a apreciação do real neste ano em grande parte à melhora das perspectivas fiscais e à postura firme do BC, que não cedeu a pressões políticas. "Já um corte rápido e precipitado dos juros, que arranhe a credibilidade do BC, pode levar o dólar para cima de R$ 5,00".
À tarde, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 10,592 bilhões em junho, acima da mediana de Projeções Broadcast (US$ 9,500 bilhões). Foi o maior valor para os meses de junho. O superávit do acumulado dos seis primeiros meses de 2023, de US$ 45,5 bilhões, é o maior da série histórica. A Secex revisou a estimativa para o superávit comercial neste ano de US$ 84,1 bilhões para US$ 84,7 bilhões – que significa um aumento de 37,7% em relação ao resultado de 2022.
O UBS Wealth Management reduziu a estimativa para a taxa de câmbio no fim do terceiro trimestre de R$ 4,85 para R$ 4,60. Após nova rodada de apreciação do real nos próximos meses, contudo, o dólar deve voltar a subir e fechar o ano a R$ 4,80, de R$ 5,00 estimados anteriormente.