Uma dose de populismo do novo governo acima do esperado pelos agentes financeiros estressou a curva de juros neste primeiro pregão de 2023. As taxas subiram em bloco em reação à prorrogação da desoneração da gasolina, ação vista como primeiro revés do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que na semana passada tinha se colocado contrário à medida. Trouxeram incômodo também falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o teto de gastos e favoráveis a uma expansão do Estado.
Na etapa da tarde desta segunda, 2, o ímpeto de alta se arrefeceu, à medida que o mercado observou falas fiscalistas do novo ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que disse que é urgente combinar as responsabilidades ambiental e social com a fiscal e que o governo Lula quer a "saúde" das contas públicas. Operadores citaram ainda os impasses em torno da desoneração da gasolina, uma vez que é apontada inconstitucionalidade na medida pelo setor de etanol e por técnicos da transição de governo.
De todo modo, a desoneração seguiu fazendo preço para cima nas taxas durante todo o dia. São dois os principais pontos de incômodo do mercado: a aparente falta de consenso no governo com a medida e o fato de uma gestão que se inicia com um rombo nas contas públicas abrir mão de receitas na ordem de R$ 50 bilhões.
Para o economista e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vagas (EESP/FGV) e ex-chefe do Departamento Econômico do Citibank, Marcelo Kfoury, Haddad perdeu a batalha em sua tentativa de discurso mais market friendly . "Para um governo que começa com uma licença para gastar mais, perder R$ 52 bilhões em arrecadação não é bom", ressalta.
Além de todo o estresse político, o Relatório de Mercado Focus de hoje trouxe também pontos de atenção ao mercado de juros futuros. As projeções de IPCA para 2023, 2024 e 2025 subiram e a expectativa para Selic no fim deste novo ano foi de 12% para 12,25%, no que o BTG Pactual viu, em relatório distribuído a clientes, como reflexo da "deterioração do cenário fiscal".
Ao fim da sessão, o DI para janeiro de 2024 subiu de 13,412% no ajuste de quinta-feira a 13,525%. O janeiro 2025 foi de 12,658% para 12,93%. O janeiro 2027 avançou de 12,608% para 12,92%. O janeiro 2029 passou de 12,663% a 12,97%. E o janeiro 2031 saltou de 12,641% a 12,94%.
*Colaborou Francisco Carlos de Assis