Wall Street só tem olhos para a região montanhosa de Jackson Hole, no interior de Wyoming, nos Estados Unidos, local da reunião da nata de banqueiros centrais e economistas no tradicional encontro sobre política monetária, desta quinta-feira, 25, a sábado, 27. Do simpósio, que volta ao formato presencial pela primeira vez desde a pandemia de covid-19, são esperadas evidências mais cristalinas quanto à subida de juros nas principais economias do mundo. A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) reforce o foco no controle da inflação mesmo à custa do crescimento da maior economia do mundo.
O tema desta 45.ª edição do evento é "Reavaliação das restrições à economia e à política". O momento mais aguardado é a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, marcada para esta sexta, 26. Economistas consultados pelo <b>Estadão/Broadcast</b>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, esperam que ele reitere seu foco em conter a escalada da inflação – que, apesar da trégua de julho, segue pressionando -, ainda que ao custo de um crescimento abaixo do seu potencial, sob o temor, inclusive, de recessão.
O Brasil será representado pela diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central (BC), Fernanda Guardado. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, não irá ao encontro por uma questão de agenda.
<b>Wall Street espera que fala de Powell seja cautelosa</b>
Entre investidores e analistas, a ansiedade pelo simpósio de Jackson Hole é grande. Eles buscam sinais para o processo de aperto das condições financeiras nas principais economias, sob o temor de recessão à vista.
Para o economista-chefe para os EUA do Citi, Andrew Hollenhorst, há o risco de Powell ter um discurso mais hawkish (manutenção de taxas de juros altas). "Não podemos dizer que há uma certeza, mas há um risco", afirmou Hollenhorst ao Estadão/Broadcast. Ao mesmo tempo ele pondera que Powell pode aguardar novos dados da economia antes de decidir se continua elevando, ou não, os juros.
No geral, Wall Street espera que Powell seja cauteloso e evite comemorações antecipadas após dados de julho sugerirem que o pico da inflação nos EUA pode ter sido superado.
"A ata da reunião de julho deu um vislumbre do que provavelmente será um tema importante do simpósio: gerenciar os riscos de declarar uma vitória prematura sobre a inflação", reforça o banco britânico Barclays, a clientes.
Antes da próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em setembro, são esperados novos dados dos EUA, incluindo o comportamento dos preços e do mercado de trabalho em agosto. Sem eles, Powell pode preferir ser mais contido em seu discurso.
O banco Brown Brothers Harriman (BBH) avalia que, diferentemente dos últimos anos, quando o Fed usou o simpósio para sugerir mudanças em sua política monetária, agora a autarquia não vai querer se comprometer antes da próxima reunião.
Para a reunião de novembro do Fomc, o mercado segue dividido. A maioria (54,5%) espera uma terceira elevação de 0,75 ponto porcentual, enquanto as chances de uma alta menor, de 0,50 ponto porcentual, estão em 45,5%, conforme a plataforma CME Group.
Na visão do economista-chefe da Capital Economics para os EUA, Andrew Hunter, o Fed deve desacelerar o aperto monetário nos EUA, elevando os juros básicos em 0,50 ponto porcentual na reunião de setembro, para a faixa entre 3,75% e 4,00% no início de 2023.
Para além do ritmo de altas nos juros, o Bank of America afirma que não espera mudança na postura do Fed em termos de um possível corte de taxas no horizonte. Powell, na visão do gigante de Wall Street, deve repetir a mensagem de que uma política restritiva é necessária até que se tenham evidências "claras e convincentes" de que a inflação nos EUA convergirá à meta de 2%.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>