Economia

Fed deve subir juros em dezembro, sem impactar economia, diz Blu Putnam

O economista-chefe da Bolsa de Chicago (CME Group), Blu Putnam, disse esperar que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) eleve sua taxa básica de juros na próxima reunião de política monetária, agendada para o dia 16 de dezembro. Putnam não pôde participar do Summit Agronegócio Brasil 2015, mas traçou perspectivas econômicas para o setor em vídeo feito para o evento. O Summit é organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, com patrocínio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp).

Putnam comentou que o desemprego nos Estados Unidos atingiu taxa de 5% e está perto do piso da média histórica do país para os últimos 50 anos, que vai de 4,5% a 7,5%. Segundo o especialista, trata-se de um indicativo de “um mercado de trabalho muito saudável”, corroborando para o movimento de aperto monetário.

Ele espera que a economia atinja a meta de inflação do Fed, que é de 2% ao ano, em meados de 2016. Hoje, a taxa está perto de 0% em virtude das implicações da queda nos preços internacionais do petróleo. Mas com a virada do ano, segundo Putnam, alteram-se os comparativos e o índice deve retomar seu fôlego.

O economista-chefe da CME repete a orientação do Fed de que o aumento nos juros será gradual e espera que a taxa possa atingir 1% ao ano ao fim de 2016. “De 0% a 1%, isso não fará grande diferença na economia, nas propriedades e em decisões de investimento. O que vai impactar é o psicológico. Pela primeira vez desde a crise de 2008, o Fed vai dizer ao mundo que a economia está indo bem”, explicou.

Reação

Putnam não espera uma forte reação nos mercados com o anúncio, mas disse que efeitos tendem a ser observados nas semanas e meses que se seguirão, com consequências positivas sobre o mercado de ações, por exemplo. Sobre os efeitos do aperto monetário sobre o mercado financeiro na América Latina, Putnam recomendou cautela e lembrou que a mensagem do Fed é otimista.

O especialista também ponderou que o mercado terá de se acostumar com crescimento mais lento do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no futuro. Isso será um reflexo da força de trabalho, que já não cresce na mesma proporção, e o envelhecimento da população – que tem impacto sobre o consumo.

Nesse cenário, a economia deve ser ativada por meio de ganhos e produtividade. “A economia terá problemas para crescer mais de 2,5% ao ano sem o impulso extra da força de trabalho”, disse. “Este também será um desafio grande para a China mais adiante”, disse.

China

Blu Putnam afirmou que a economia chinesa tem se desacelerado “de maneira consideravelmente rápida” e pode apresentar taxa de expansão do PIB entre 5% e 6% ao ano pelos próximos dois anos. A partir de 2020, a projeção do especialista é menos otimista: de apenas 3% ao ano.

Putnam cita que a China foi bem-sucedida em seu plano de desenvolvimento econômico nas últimas três décadas e que esse é um dos motivos por detrás da desaceleração. A economia foi modernizada por meio de infraestrutura nos últimos anos, mas os mesmos investimentos hoje não têm o mesmo impacto porcentual no cálculo do PIB.

Além disso, Putnam destaca que a migração de pessoas de zona rural para áreas urbanas, hoje em 15 milhões de habitantes ao ano, deve se desacelerar – com implicações negativas sobre o setor de infraestrutura. “Isso adiciona 3 pontos porcentuais ao avanço do PIB, mas essa fonte de crescimento vai diminuir e desaparecer”, antecipa.

O especialista nota que as exportações da China estão estagnadas e a desvalorização do yuan é mais um indício disso, em vez de uma solução para o problema. Como nos Estados Unidos, a população chinesa também tem envelhecido, o que prejudica o consumo e, por consequência, a economia. Isso também vai obrigar o governo a gastar mais em saúde, reduzindo investimentos para outras áreas.

Se a desaceleração é evidente e inevitável, Putnam busca tranquilizar o mercado financeiro, afirmando que a maior parte deste efeito já foi embutida nos ativos hoje negociados. Em outras palavras, o mercado já sabe o que esperar. Segundo ele, a desaceleração chinesa também “não será um baque, pois o governo tem instrumentos para evitar isso”. O economista-chefe do CME Group se diz confiante de que a atuação do governo chinês mitigará o cenário e evitará surpresas negativas.

Em compensação, a desaceleração da China implica pressão sobre as commodities no mercado internacional. Isso se junta aos baixos preços no mercado do petróleo, em virtude da grande oferta e da falta de sinais de que os países árabes vão reduzir sua produção. “Estamos nessa era de preços de commodities reduzidos, que deve continuar entre os próximos quatro, cinco ou seis anos, até que o crescimento econômico nos leve de volta a pontos altos no ciclo”, concluiu.

Clima

“Após um forte El Niño, com frequência, o mundo passa por uma La Niña muito forte, com o efeito oposto”, destacou Blu Putnam, durante participação em vídeo no Summit Agronegócio Brasil 2015. Em sua fala, o especialista alertou o setor produtivo a se preparar para maiores oscilações nos preços das commodities em virtude dos eventos climáticos. “Se hoje chove (por causa do El Niño, depois teremos seca (La Niña). Se hoje está quente, amanhã haverá frio. Estamos prevendo muita volatilidade nos preços da agricultura”, ressaltou.

Nessa linha de raciocínio, Putnam prevê que os preços de commodities agrícolas, que hoje estão em patamares considerados baixos pelo mercado, podem não permanecer neste nível daqui a dois anos. “O El Niño provoca mudanças nas correntes marítimas que afetam a La Niña. E quando ela chegar, pode reverter tudo em termos de projeções para a agricultura”, disse.

O economista se disse otimista com o ano de 2016, que não deve ser marcado por forte recuperação global, mas também não deve enfrentar a mesma pressão internacional observada em 2015.

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