O dólar à vista caiu 0,92% em relação ao real hoje, a R$ 4,9208, em meio a um ambiente de fraqueza geral da moeda deflagrado pela decisão de política monetária nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed) manteve os juros na faixa de 5,25% a 5,50%, conforme antecipado. Mas o aumento na projeção do banco central americano para os cortes em 2024, de 50 para 75 pontos-base, sustentou um forte aumento do apetite por risco global e deu a senha para a queda da divisa aqui.
Não à toa, a moeda americana oscilou entre queda e alta moderada até meados da tarde e chegou a tocar a máxima de R$ 4,9772 (+0,20%) durante a manhã, em vários momentos pressionada pela saída de fluxo cambial. Mas inverteu o sinal rapidamente após a decisão do Fed, divulgada às 16h. Em 20 minutos, de 15h59 a 16h19, perdeu quase cinco centavos na cotação. Depois, puxada por sinais dovish do presidente do Fed, Jerome Powell, chegou a tocar a mínima de R$ 4,9153 (-1,03%).
O comunicado de política monetária dos EUA mostrou que a mediana das projeções de dirigentes do Fed agora indica queda dos juros a 4,6% em 2024, um nível compatível com redução de 75 pontos-base no ano que vem. Durante a entrevista coletiva para comentar a decisão, Powell repetiu que a autoridade monetária está "preparada para apertar ainda mais" se for necessário. Mas reconheceu que a taxa dos Fed Funds está pelo menos próxima ao pico e que o Fed já teve "discussões preliminares" sobre reduzir os juros.
Depois da decisão do Fed e da coletiva de Powell, o mercado migrou para a expectativa de um corte inicial dos juros em março, com 76,1% de chance, segundo o CME Group. A maior parte dos agentes espera que o BC americano corte os juros em 150 pontos-base em 2024.
O CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, afirma que o aumento global do apetite por risco é o principal responsável pelo desempenho do dólar e da Bolsa brasileira hoje. Ele destaca que a decisão do Fed também parece acabar com a preocupação de uma redução no diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, que prejudicou o real ontem. "Como o mercado espera que o Fed corte em março, o carrego até aumentaria, porque não vejo o BC acelerando os cortes a 75 pontos", afirma.
Já o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, considera que o discurso de Powell e o comunicado do Fed foram cautelosos para evitar uma sinalização de timing dos cortes, mas impõem um viés de otimismo nos mercados. "Sinalizar cortes em 2024 é ótimo para as bolsas internacionais", afirma.
Com a decisão do Fed, a espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje ficou em segundo plano. O consenso do mercado é de que o BC diminuirá a Selic de 12,25% para 11,75%. O noticiário fiscal também foi acompanhado, enquanto o governo tenta aprovar seu pacote de aumento de receitas para zerar o déficit primário em 2024.